NEM PENSO EM ENVELHECER !
Era uma manhã fria com muita neblina e pelo visto o sol, com certa preguiça só ia chegar um pouco mais tarde. Não sei exatamente qual o motivo mas gosto de dias que começam e terminam com neblinas.
Esse ambiente me trás uma certa nostalgia, fazendo com que eu tenha algumas lembranças do meu tempo de criança na casa da minha avó no sul de Minas, quando no inverno o sol só começava a brilhar realmente por volta das nove horas.
Tinha saído de casa bem mais cedo para fazer um exame de sangue e na volta , ao passar por uma bela pracinha vi varias pessoas, homens e mulheres, que se exercitavam num compasso ritmado, como se fosse um balé muito bem ensaiado e completamente indiferentes ao tempo nublado e clima frio.
Achei tão curiosa e interessante aquela cena que resolvi estacionar meu carro para ver mais de perto o que estava acontecendo. E era o seguinte . Uma jovem de mais ou menos uns trinta anos, ao som de movimentada música comandava uma animada sessão de ginástica para um grupo de aproximadamente vinte pessoas.
O detalhe mais surpreendente é que o mais jovem daquele animado grupo deveria ter no mínimo algo próximo dos setenta anos. A cena era realmente linda. Senhores e senhoras de cabelos brancos e corpos desgastados pelo tempo de vida , brincando de fazer ginástica como se fossem molequinhos e molequinhas adolescentes num desses dias em que Deus nos permite usar, abusar e aproveitar das melhores farras.
Entre risinhos e piadinhas os jovens velhinhos pulavam, mexiam a cintura e tentavam se abaixar ao máximo que seus ossos permitiam, tentando quem sabe, fazer os mesmos movimentos que o jovem atleta procurava ensinar e que , a cada tentativa, repetia palavras de incentivo e aprovação.
Cena realmente linda. Ao final da sessão abraços, mais risinhos e piadinhas, cumprimentos, elogios do instrutor e cada um , com um ar de alegria e felicidade estampados em seus rostos se dirigiram a suas casas. Fiquei alguns minutos olhando aquele grupo que se afastava pensando em como a vida nos dá lições diárias de sabedoria.
Quantos de nós, bem mais jovens, nos entregamos prematuramente às derrotas , aos fracassos, às desilusões, aos medos e a insegurança só pelo simples fato de começarem a aparecer os primeiros fios de cabelo branco nas nossas cabeças ?
Quantos de nós, pelo menos uma vez na vida, não ficou aterrorizado pelo simples fato de já termos colocado quarenta velinhas no nosso bolo de aniversário ? Na verdade, será que temos medo de continuar vivendo ou é simplesmente medo de morrer ?
Filosofias à parte, escolhi um dos bancos ainda vazios àquela hora e sentado, comecei a observar o que acontecia ao meu redor. Numa árvore frondosa bem à minha frente percebi vários pássaros que pareciam ter despertado naquela hora pois faziam uma enorme algazarra. Prestando mais atenção, vi um pássaro colorido que tentava alimentar um desajeitado filhote no seu ninho. Pena não ter trazido minha câmera fotográfica.
O sol, com algum atraso resolveu dar as caras e então a praça começou a ficar mais movimentada. Um grupo de senhoras idosas passou por mim em seus trajes coloridos de malha, caminhando de uma forma ordenada e compassada, fazendo alegres comentários sobre o capítulo da novela da noite anterior.
Crianças uniformizadas passavam apressadas para mais um dia de aula. O dia começava a se movimentar. Olhando para o chão, vi claramente uma fila indiana de enormes formigas que carregavam folhas verdes que caíram de alguma árvore próxima. As formigas, se dormem, levantam muito cedo.
O ar estava úmido e o calor do sol fazia com que a grama molhada exalasse cheiro característico o que me animou a caminhar um pouco. Vi flores, vi plantas, ouvi o belo cantar dos pássaros, cumprimentei e fui cumprimentado por pessoas que nunca tinha visto e com grande satisfação, pude ver mais um grupo de idosos que se preparava para mais uma sessão de ginástica ao ar livre.
Quatro jovens muito bonitas passaram por mim pedalando suas bicicletas, rindo, talvez contando com certo exagero, suas aventuras amorosas em noites anteriores.
Era a vida que pulsava naquele ambiente. Gente pobre, gente jovem e gente velha todos, de alguma forma, aproveitando momentos de paz e alegria que só Deus, na sua infinita bondade, tem o poder de nos conceder e que nem sempre sabemos aproveitar.
Voltei para o meu carro com um sorriso nos lábios , liguei o radio e comecei a escutar uma bela melodia. Sem dúvida aquele seria mais um dia maravilhoso. Pensando bem, com toda essa maravilha que é a vida, quem terá tempo para envelhecer ?
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(......imagem google.....)