PACHOLA, PATCHULI e PATCHULÉ - Berenice Hering

Estava esta que vos fala percorrendo a orla da Praia de Itapoã, numa manhã de domingo anuviada de vento brando. Na volta, sinto um cheiro adocicado, enjoativo, e olho para o quiosque. Fechado. Mais à frente, percebo um vulto quase na faixa da areia com um cigarro à mão, mais ou menos a uns 15 m. A uma senhora que vinha conduzindo um par de perros- cagões pergunto se identifica o aroma. Ela diz que é o mesmo do incenso patchuli, o da erva-fina que não é bouquet -garni francês.

Aí decidimos ambas, ali mesmo, começar a Frente Ampla pela descriminalização da maconha e de todas as demais drogas. Por que continua a marcação cerrada, a perseguição ferrenha, o gasto absurdo com a repressão, a proibição, a fiscalização? Campanhas caríssimas que não surtem nenhum efeito. Os fabricantes continuam a fabricar, os distribuidores a distribuir e os consumidores a se entupir. E existem clínicas de tortura onde os viciados são seviciados, dopados, amarrados, mantidos em cárcere privado e os donos se dizem autorizados em nome de Deus. As famílias lavam as mãos e transferem o problema para uma instituição. Não seria melhor que cada um se matasse por sua própria conta e risco sem locupletar os traficantes que monopolizam e coordenam as mega-redes do narcotráfico internacional? Milhões de dólares e euros no negócio mais lucrativo do mundo. Temos aí o JCRAbadia... Um dia destes vi um Narguilé, aquele apetrecho sofisticado para os apreciadores do ópio nos haréns e palácios orientais que o personagem do Stênio Garcia usava na novela O Clone. O Stênio é capixaba, nossa maior glória, e nasceu em Mimoso do Sul. Minha amiga Tércia é conterrânea dele. O poet maudit Charles Baudelaire usava um narguilé...Pois é, voltando às vacas frias. As campanhas anti-isto, anti-aquilo são feitas pelos que são, por natureza, escolha e juízo contra isso e aquiloutro, obviamente. Por que o governo não populariza a frente ampla, geral e irrestrita para que cada grupão de viciados leve a efeito sua própria campanha Anti? Não tem nenhum sentido uma pessoa como eu, abstêmia, antitabagista ferrenha, antidopping e antidrogadiços sair fazendo alarde e puxando cordões de puxassacos com outros tantos iguais a mim. Ah! Creio que o Ministério da Saúde deve Acabar Urgente com tais palhaçadas carésimas e inoperantes. O fumante inveterado acha muito interessante o Dia Mundial de Combate ao Cigarro. Dá uma espiadinha, pensa que aquilo não tem nada a ver com ele e, nesse ínterim, vai à esquina comprar o seu 2º maço do dia e consegue acender o próximo na guimba do anterior...

A Cássia Kiss confessou já ter sido usuária de drogas, agora é abstêmia e macrobiótica. Euzinha aqui, que costumo afirmar que não sou normal, pois não me enquadro nessa normopatia que grassa por aí, jamais tive nenhum frisson por essas antigas-novidades apregoadas hoje. Na roça o pessoal fumava cigarros de palha com fumo de rolo picado miúdo a canivete e quase todos bebiam cachaça e conhaque. Nunca tive tais compulsões. E olha que não sou religiosa. Acho que meu sangue não se dá com essas coisas e meu estômago não digere cerveja. Fico tonta e posso chegar a desmaiar com um copo de caldo de cana, a popular garapa. Isto não é santidade, é só juízo e incompatibilidade mesmo. Lá no Paraná muitas pessoas foram envenenadas e morreram ao tomar garapa, pois as canas estavam contaminadas pela toxina do inseto barbeiro.

Se alguém quer se matar de tanto ingerir drogas, fumar e beber até não mais poder, não posso fazer nada, infelizmente. Os que lideram as campanhas se consideram onipotentes, acham-se acima do bem e do mal e pensam que têm o poder, como o incrível Hulk.

Rematando: o incenso faz mal, sua fumaça é tóxica, libera mortíferos hidrocarbonetos, mesmo sendo de sândalo ou alfazema. Para os que têm chulé na cabeça e juízo no pé, podem usar o pó desodorante no cocoruto mesmo. E o Preto Véio tira um sarro. 1º/junho/08.

Berenice Heringer
Enviado por Berenice Heringer em 06/06/2008
Código do texto: T1022048