Amor com olhar e silêncio
Coisa gostosa é amar, fazer amor… Fico chateado quando vejo uns estúpidos pronunciarem que só quem ama a Deus (o seu deus) ama verdadeiramente. Amor não é algo falso ou verdadeiro, amor é amor e ponto final. Cada um ama como lhe convém e cada um escolhe se deseja ser amado como se é amado ou não.
Shakespeare disse em seu poema Eu Aprendi que “porque alguém não o ama do jeito que você quer que ame, não significa que esse alguém não sabe amar…” Até acho injusto alguém exigir amor, tipo: Ame-me desse jeito, ame-me dessa forma. Ora, já não é o bastante ser amado?
Existem várias formas de amar, de ser amado… Mas têm duas que gostaria de frisar aqui. Aquele amor que fazemos com os olhos e aquele que fazemos com o silêncio.
Sim, dá a impressão que amor só se faz com palavras, daí o motivo pelo qual muitos exigem que seja dito o famoso EU TE AMO. É comum nosso parceiro indagar: Você está estranho comigo, o que houve? Daí perguntamos: - Como assim? Estranho? Vem então a resposta: – É que você nunca mais falou que me amava.
Onde há muito falatório, desconfio que haja algum amor.
Bom lembrar da poesia do Fernando Pessoa, “Amo como ama o amor. Não conheço nenhuma outra razão para amar senão amar. Que queres que te diga, além de que te amo, se o que quero dizer-te é que te amo?”, bem, de repente nem quero dizer-te que te amo.
Mas deveríamos exercitar mais os olhos, coisa gostosa é olhar a pessoa que amamos, olhar sem nada falar. Contemplar, admirar, ter orgasmos visuais. É como olhar para um jardim, olhar para um quadro do Van Gogh, olhar o que amamos, boa terapia. O olhar pode dizer muito mais coisas que as palavras.
Olhar o amado é uma forma de oração, é render-se à beleza, e diante da tamanha maravilha, resta-nos o silêncio e a admiração. Pena os religiosos não entenderem isso, daí falam demais com seus deuses, não o admiram.
Quem fala demais revela que nada sente, o falatório é só uma forma de mostrar que nada de útil temos a dizer. Prefiro um olhar apaixonado a mil palavras de amor.
E o silêncio! Ah! O Silêncio. Nunca ouvimos o que o silêncio quer dizer. O amor também aparece no silêncio, e corro o risco de dizer que principalmente no silêncio que ele se revela. Quem ama, suporta se manter numa sala, sem nada pronunciar, porque a presença do outro vale mais que o som da voz.
Exaltemos, pois o silêncio, que são palavras sem sons. São poesias da alma. Somente pessoas que se amam conseguem silenciar-se ante a presença do outro. Quem não ama de verdade fica a todo o momento expressando o que sente, narrando sentimentos, achando que isso vai de alguma forma manter a outra pessoa presa, grande engano, diz assim o Drummond “Se você sabe explicar o que sente, não ama, pois o amor foge de todas as explicações possíveis”.
Falar de amor é pura verborragia, manifestação de um coração sem amor, só medo. Diz também o Roberto Freire “quem começa a entender o amor, a explicá-lo, a qualificá-lo e quantificá-lo, já não está amando”.
Quem ama verdadeiramente, ama com o olhar e ama com o silêncio. As mais lindas palavras de amor são ditas no silêncio de um olhar. (Leonardo da Vinci)
Então, lembremos sempre disso: Os olhos são ouvidos, são eles quem ouvem o silêncio.