_Emoções_ ***Espera*** _

Emoções

Espera

Nossa vida é um constante esperar. Nascemos, esperando viver, vivemos na expectativa de morrermos um dia. Ai de nós se não tivéssemos esperas, esperanças de vida, desejos de realizações, ansiedades de amarmos e sermos felizes. Seríamos meros seres vertebrados apenas, sem alma e sem sentimentos, incapacitados de doações, afetos, sonhos de amor e ilusões de encantamento. A espera é que nos encoraja para adentrarmos nossos destinos, polirmos nossos anseios e até calarmos nossos dissabores. O tempo, nosso grande aliado, abre suas portas para a reflexão, para cismarmos nossas dúvidas, sendo qual andorinhas, que em eternos vai-véns, nos ensinam a viver livremente, pensar loucamente, compreender e distingüir ocasiões de aspectos, as vêzes tão nebulosos e sufocantes.

Esperar sem desesperar suas circunstâncias, seus caminhos que o destino nos oferece, traçando, rabiscando nossas chegadas, nossas partidas, ora aqui, ora acolá em nossas estradas e nossas encruzilhadas. Devemos ter, nas esperas, a solução de tantos males que fustigam e nos afligem sem clemência, sem dó nas expectativas de soluções e em eternos esperares, as vêzes dolorosos e temidos. A coragem nas esperas é o louro que alcançamos nas disputas de soluções e desejos escondidos, de querermos num só golpe, aniqüilar nossos medos, nossos temores.

Nos desesperos, que sempre nos acometem, sejamos suficientemente fortes, esperando soluções que tranqüilizem nossas almas, dando alento que justifiquem nossas esperas, nossas expectativas de vida. Saber esperar é uma arte que dignifica nosso ser, separando as esperas tranqüilas, esperançosas, humildes, estimulantes e alvissareiras, daquelas ansiosas, nervosas. irracionais e descontroladas.

Que bom esperarmos com paciência, com resignação, com bons pensamentos, esperança e doçura em nossos corações! A vida tamborila esperas, numa cadência forte e contínua, avassalando nossos desejos e intenções. Quantas vezes esperamos uma eternidade para um simples aceno, como resposta, um beijo como uma solução e um mero "oi", como presença. É uma carta de pessoa querida, um toque de telefone, uma campainha de porta, uma janela que se abre e serve de parapeito às nossas ansiedades e expectativas.

Como disse, a vida é um eterno esperar. Esperar sem complicar, sem desesperar, sem tresloucar, mas no simples silenciar com a falta de chão, que nos acomete, no medo e na incerteza dos "de vez em quando" que ficamos.

Esperamos nove meses pra nascer, uma vida inteira pra sobreviver e outras tantas pra partir, em busca do nada e do tudo. Espera é o enigma da natureza. É o vento que insufla as velas de embarcações nas calmarias, o sol que aparece quando a lua se esconde, o remédio que nos alivia dos males, acalmando nossas dores, nossos esperares.

Cada dia é um esperar diferente na cartilha dos exemplos, nas lições tão bem estruturadas que aprendemos, nos "bêabás", nas tabuadas, nos verbos e pontuações, nas acentuações e nos hiatos que nos envolvem. Compêndios exemplificam e nos ensinam a arte de ser gente.

Quantas vêzes eu me calo, esperando... Se me perguntarem: "o que"? não saberia responder. Apenas espero a espera, numa ansiedade do nada a esperar, mas na salutar esperança de algo novo, que venha a suceder. Não culpemos o destino quando se faz longa uma resposta, uma solução que tanto ansiamos e, sim a nós mesmos, pela qualidade de nossas incapacidades de espírito e estados psicológicos, que são insinuados.

Agora um conselho útil e oportuno. Quando nosso barco estiver fazendo água e ficarmos sem direção. Quando, no clímax de nossas apreensões, tudo estiver à deriva, quando as marés forem desordenadas, o tempo escurecer e a chuva cair, incessantemente, com trovoadas a nos ensurdecerem e relâmpagos a riscarem os céus assustadoramente, esperemos o temporal passar e a chuva amainar, diminuindo seu gotejar naquela esperança do esperar, que tudo há de se acalmar e passar... Tudo dentro da sábia verdade do saber esperar, com dignidade, com inteligência, porque quando há demora, um milagre já emerge e a resposta tão ansiada já está à caminho...

Esperar sempre o ser ou não ser da questão...

Maria Myriam Freire Peres

Rio de Janeiro, 09 de fevereiro de 2005