DO ANTES AO DEPOIS - ACORDANDO NO ALÉM
cap II
Acordando no além
Lençóis brancos em uma cama branca. Ao redor, paredes brancas e se aproximando, uma mulher bonita vestida de branco. O único detalhe estranho era um relógio redondo de parede, verde. Lembrando, do que eu achava ser, o dia anterior, do teto que corria, da enfermeira insensata, da dor que desapareceu como num passe de mágica, calculei estar em algum lugar no paraíso e pensei:
“Será que até no paraíso vou ter que enfrentar um hospital?”.
Sentia-me conformada com o desfecho daquela dor insana. O lugar era calmo e, apesar de pequeno demais, me sentia bem.
O perfume era insuportável! Aquele homenzinho de semblante zangado, que andava de um lado para o outro, me deixava nervosa. Não entendi o por quê de somente ele estar vestido de verde. Seria para combinar com o relógio verde que ficava à minha frente?
Não foi assim que idealizei o paraíso. Onde estavam os anjos? E o lago?
Novamente o homenzinho com aquele perfume horrível, que nem usava camisa, pois dava pra ver pelos em suas costas, pela abertura do avental. Senti náuseas.
Enfim, a moça de branco se aproximou e me perguntou: “Você está se sentindo bem?” Com medo da certeza, fiz uma pausa na respiração e logo recuperada, perguntei onde estava. “Você chegou há dois dias na UTI. Não lembra?”, disse ela, com voz serena.
Antes que eu pudesse responder, dois anjos, bem pequenos, entraram e se aproximaram do meu leito. Eram os meus anjos, meus pequenos. Não entendi muito bem o que duas crianças faziam dentro do UTI, mas fiquei feliz, pois era Natal e comecei a lembrar de tudo. Não puderam ficar muito tempo, e logo que saíram, o perfume voltou a incomodar.
Ele não fazia parte do paraíso, então, quem era?...
Não demorei a descobrir...
EDITOR DE TEXTO: LEILA LAGE