O Castelinho de Areia

Juca e Bia brincam em um parquinho infantil. Amigos de berço, conheciam-se antes de começar a andar. Famílias amigas. Aos olhares de terceiros eram apenas duas crianças, mas eram ambiciosas. Ele queria ser médico pra curar todas as doenças e ela professora para que nenhuma criança ficasse sem estudar.

Brincavam na areia:

- Olha o castelinho que eu fiz pra você e pra mim, Bia!

- Ah que fofinho Juca. - dando-lhe um beijo no rosto

Se rosto ficou rubro, o coração bateu forte, ficou muito feliz, nunca tinha sentido aquela sensação antes. Mal ele sabia que esse sensação pode ser muito melhor.

Crescem juntos, o inicio da puberdade os afastou um pouco mas nada que abalasse a amizade de anos e anos. Bia tinha se tornado uma bela garota, nem alta nem baixa, pele macia e cabelos compridos, Juca um garoto com algumas espinhas que se preocupava mais com futebol do que com escola. O primeiro beijo de Bia foi com um garoto quatro anos mais velho, o de Juca com uma garota dois anos mais nova. Ele sentiu ciumes, muito. Ela acha que talvez tenha sentido também. Foram para o ensino médio juntos, lá conheceram pessoas que seriam amigos pra vida toda. Às vezes ainda lembravam daquele dia no parque:

- Juca lembra aquela vez que você fez um castelinho de areia pra mim?

- Lembro...o que tem? - já começando a ficar sem jeito.

- Tava lembrando...bons tempos. Você fez aquele castelinho pra nós. - sorrindo-lhe um sorrisso hipnotizante.

- Bia isso já faz tanto tempo... - meio sem jeito

- Mas eu lembro até hoje! - e sorria, o sorriso mais lindo que ele já viu.

Lembrava mesmo, mas não dava pra saber se lembrava do mesmo jeito que Juca, que a cada momento sentia mais vontade de ficar ao lado dela, não era algo mereamente carnal, ele já nem olhava tanto as outras garotas, seus olhos eram dela, só dela. Era aquilo que alguns ultra-românticos chamariam de amor inalcansável.

Aos dezesseis Bia começou a ficar com um cara mais velho e foi em Juca que ela buscou conselhos sobre começar a namorar ou não:

- Juca...podemos conversar?

- Claro. - ele fecha o livro e já põem seus olhos somente nela.

- Sabe Juca, eu e o Guto já estamos ficando faz tempo e tá começando a ficar sério, ele me pediu em namoro...você acha que eu devia aceitar?

Aquilo realmente o dividiu, dividiu porque não sabia o que dizer. Podia dizer não e ter que explicar a razão do não ou dizer aquele velho lero-lero de "seu coração é que deve decidir"

IDIOTA! Optou pelo lero-lero, foram as palavras mais dificieis da sua vida, aliás tinha acabado de jogar sua vida fora.

Não havia mais como voltar atrás, cada dia que passava o namoro de Bia parecia melhorar e isso acabava com Juca.

O fim do ensino médio finalmente chegou, Juca prestou o vestibular mais longe possivel para não ter que ver mais Bia tão longe e tão perto dele.

Passou depois de três anos tentando, formou-se e hoje é um grande médico, mas vive uma vida desregrada sem a mínima vontade de casar, gasta seu dinheiro do jeito que bem entende, esse conflito entre uma vida profissional de sucesso e uma vida pessoal desastrosa o envelheceu como não deveria ser.

Às vezes volta a cidade natal e sempre encontra Bia, hoje casada. Conversam muito e toda vez que conversam lembram daquela tarde e daquele castelinho de areia. O castelinho dos dois onde, hoje, brincam sempre.

Vilela
Enviado por Vilela em 04/06/2008
Reeditado em 23/07/2010
Código do texto: T1019743
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