Carne Crua
A gente não se revela humano? O desastre se torna algo que merece, não nosso olhar crítico, mas nossa atenção e cuidado... Ai, essa gente que especula o real como se fosse algo puramente evitável por qualquer um...
Acontece que o evitável é o nosso ponto fraco. Vivemos na busca da tranqüila segurança e nos esquecemos que somos vulneráveis aos flagelos mortificantes do dia-a-dia. Qualquer sono ao volante faz o evitável se tornar uma coisa que não mereça especulação, mas atenção e cuidado imediato...
Os desastres fazem parte da nossa vida e é tão fascinante o real estar assim: em carne crua e velada... Morta! Eis o que ninguém quer sentir, mas o que todo mundo quer ver.
Tudo parece um sonho ruim. Todos os sonhos de carne crua parecem se tornar reais num campo de batalha ou numa estrada movimentada. Mas a verdade é sólida e perceptível. A carne crua dos problemas alheios vistos por quem não aguenta mais os próprios problemas.
É isso, sou a carne crua e o mundo é meu organismo. Um músculo do mundo que morre mas o que faz falta é o movimento que este fazia quando vivo. O povo admira a morte como se fosse algo que um dia viria acontecer consigo, porém fascina-se ao vê-la exposta nas páginas de jornais. A morte é um mero troço que te faz ser vivo e operante... Quem morreu? Deixa... É só mais uma peça a ser trocada...
É isso, carne crua de nós... A morte, o terror de não saber o que há. Até lá, observamos a carne crua de nossas vítimas...