Acredite se quiser, comprei meu violão no prostíbulo

Andar pela cidade do RJ é sempre uma aventura, dessa vez eu me dei bem, pelo menos acho que sim. Eu estava andando pela rua do ouvidor, era tardezinha, estava louco para achar uma casa de música. Naquele dia eu saí para comprar um violão, e já tinha andado o dia inteiro atrás de um violão que fosse barato e tivesse um bom som. Eu não estava com muita grana, mas tinha o desejo de encontrar algo bom, como se diz na gíria dos violonistas, eu estava garimpando um bom violão, já tinha andado toda rua da carioca, e em todas as casas de música que fui não consegui achar um violão do meu jeito. Acabei foi encontrando um velho amigo, Sr. Carlos, um cara muito legal que tocou sax comigo em uma festa de casamento, ele me informou que na rua do ouvidor teria um violão para venda.

Quando cheguei ao endereço que meu velho amigo disse, tomei um susto, não era casa de instrumentos musicais, nem loja de usados, era uma casa de prostituição, dei meia volta e fui novamente em direção a rua da carioca, no meio do caminho encontrei Carlos, fui logo dizendo a ele que eu não estava brincando quando eu falei que queria comprar um violão e disse também que eu não tinha tempo a perder. Ele com muita calma disse-me que sabia o tempo todo que lá era um prostíbulo, mas que o dono daquele estabelecimento teria um ótimo violão para vender. Na mesma hora me acalmei e voltei a Rua do Ouvidor, subi as escadas e entrei no prostíbulo, achei agradável o local, as garotas andavam seminuas de um lado para outro e quando eu cheguei, elas me recepcionaram com maior carinho, acho que elas pensaram que eu teria dinheiro para gastar.

falei logo que queria falar com o dono, elas ficaram um pouco nervosas, mas com o passar de mais ou menos uns dez minutos o dono chegou acompanhado de dois leões de chácara, antes de se sentar a mesa ele me perguntou o que eu queria, o ar de homem nervoso lhe saltava pela face, eu respondi que um amigo havia dito que teria um violão naquele local para vender. Os dois leões de chácara começaram a rir, eu acho que eles também não imaginavam que eu queria era falar sobre música. O dono do estabelecimento, falou para que eu aguardasse um pouco que ele iria pegar o instrumento, eu fiquei uns trinta minutos naquela mesa, confesso que foi agradável esperar, as garotas estavam treinando o show da noite, e eu assisti tudo de graça. Não demorou muito e ele veio com um violão, estava todo desafinado, mas quando eu afinei e toquei a primeira música o homem caiu em prantos, eu tinha adorado o som daquele instrumento, mas não sabia o quanto ele queria nele. Perguntei o preço e ele disse que tocasse outra música, eu toquei uma peça de Bach, ele simplesmente virou para mim e disse que o violão seria meu se eu tocasse em algum dia a ser marcado em seu estabelecimento, fiquei pensando de como seria tocar música clássica em um prostíbulo, mas aceitei todo alegre. Combinei com ele o dia em que eu iria tocar, com o passar dos tempos eu descobri que ele era músico de uma orquestra famosa, e que devido aos interpérios da vida ele decidiu abrir uma casa de prostituição.

Acabei tendo um violão de boa qualidade e economizando meus trocados.