Sensações
Edson Gonçalves Ferreira
O rio que corre na minha cidade está diferente de como era outrora e tão igual aos rios que cortam outras cidades do mundo: poluído e agonizante. Parece que, até hoje, o ser humano não aprendeu a se respeitar e, tampouco, a respeitar os outros seres que existem na Terra e que, como São Francisco de Assis ressaltou, todas as criaturas são nossas irmãs.
Assim, nem posso olhar no espelho, porque sinto pena de mim mesmo porque, muitas vezes, falho ao cumprir o mandamento maior: "Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei". Lindo mandamento, mas difícil, muito difícil! Sim, eu falho e você falha. Estamos misturados à massa que, indiferente, passa, aflita, ao lado dos rios que morrem e das pessoas que moram nas ruas.
O cheiro da humanidade desapareceu como o odor saudável das plantas que, antes, qualquer vento, batendo nos galhos das árvores, trazia e perfumava a nossa existênica. Não há mais a canção do vento e nem as vozes humanas são tão sonoras quanto foram. Raramente, ouvimos risos cristalinos e cumprimentos afetivos nas ruas. Parece que o ser humano se esqueceu do bom dia, boa tarde, boa noite, muito obrigado, como vai...
Olhando bem, bem mesmo, nem os beijos dos casais são tão saborosos. Estamos congelados pela rigidez da tela da televisão e do computador. Dói sentir que nada mais é espontâneo. Eu não posso sequer olhar direito, bem nos olhos, no profundo do cristalino de alguém, porque os olhares fogem. Ser gente e sensível ficou perigoso demais.
As pessoas freqüentam, hoje, tanta academia, fazem tanta plástica, preocupam-se só com o visual, não seria porque não têm tempo para entrar no santuário da Natureza? Fico pensando, pensando ... Nem rezar muitas pessoas sabem mais! Resmnungar ave-marias e pai-nossos não é prece. Oração tem que vir do fundo da alma ofegante por Deus e fecundada pelo desejo de amar a todos, sem barreiras.
Viver mais de quinze, de vinte, de trinta, de cinqüenta anos não é necessário se os dias não forem exercícios repetidos na busca da nossa essência. Eu não acreditaria em outra vida se não tiver vivivdo plenamente esta. Ninguém é santo, tampouco só pecador, todos nós cometemos equívocos e, sem querer, ferimos o outro. É necessário, no entanto, ferir a terra e o corpo para que a Primavera aconteça. Eu desejo que todos nós possamos, um dia, nos encontrar no jardim do Senhor.
Divinópolis, 2006