Sem luz no fim do túnel

A cena é clássica. Num estado de quase morte, todos voltam dizendo a mesma coisa. Tinha uma luz e no fim um homem de barba e cabelos longos me estendia à mão. Nós do ocidente estamos carecas de saber quem é este homem. Mas assim como esta imagem narrada pelos salvos pelo gongo, ou um bom médico que as pessoas chamam de “graças a deus”, sabemos sem invenção humana numa fantástica alucinação coletiva.

O sofrimento é inerente ao ser humano. Já se inventou tudo desde que nos entendemos por racionais, ou humanos, como queiram, para nos aplacar da dor. A física já pode ser contida ou controlada. Mas há a metafísica. Esta parte tem gerado mais sofrimento. Guerras milenares são travadas para uma metafísica sobrepujar a outra. O resultado disso, milhares de amputados e mortos anualmente. Noutra grande parcela de vezes o homem luta por coisas físicas, mas coloca o metafísico na jogada, para levar consigo rumo ao fim, os outros doidivanas do arrebatamento coletivo alucinógeno.

Assim como os famosos livros de auto-ajuda, no caso funciona para quem diz que escreve literatura, mas faz isso e ganha muita grana, para dizer que tudo é bom e maravilhoso, a vida é bela. Neste mundo de faz de conta adulto que chamam de “livros vendíveis”, funciona a mesma temática de Moises a milhares de anos, dizer que um ser superior imaginário fará as coisas acontecerem. De uma certa forma nestes casos pode ter deus, racionalmente chamado de probabilidade estatística. Exemplo:

“João quer comprar um carro. As possibilidades dele concretizar isso é: meio a meio, ou seja, há uma possibilidade disso dar certo, uma para dar errado. João reza à noite. No dia seguinte ele compra o carro e diz: ‘graças a deus’, mas numa eventualidade de a segunda possibilidade de desenhar favorável, e o negócio não sair por n motivos João exclama: ‘foi deus quem quis assim’”.

Sem essa verdade de ser finito, o ser humano faz verdadeiras mazelas com os outros e mais ainda consigo mesmo. Homens que sacrificam a vida inteira de trabalho duro, sem tempo para respirar direito, dar um abraço no filho, no pai, na esposa, numa corrida suicida para um fabuloso mundo de sucesso e fortuna. Caminham rapidamente a um fim trágico e cruel, sem nada para além do túnel, nem a luz, nem o barbudo de braços abertos. De outra forma, permaneceremos por aqui, sempre há alguém para lembrar de nossa face, pelo menos por duas gerações. Falarão de nossa vida, o que fizemos, como fizemos, e nada mais restará dos que só mostram coisas materiais. A bunda e tudo o resto serão transformados em pó, voltará ao estado bruto da matéria que dá origem a tudo. O ouro tolo acumulado pela vida mal vivida afora, será pó, teu corpo será pó, e tua memória virará pó, se não fazeres algo pela vida de quem te faz feliz, você.

O lado negativo da força existe para equilíbrio, o positivo colabora, mas puxar para um dos lados degringola tudo. Assim caminha a humanidade, já disse o poeta, a passos de formiga e sem vontade... mas, tem uns que querem ir aos pulos como tigres. As idéias otimistas de que a humanidade tem jeito, acaba estragando o ser de vez. Quando o homem tomar consciência de que é finito, e não é um deus sobre a terra, mas igual um porco, defensor unicamente de seus domínios, pouco se importando com o domínio do outro, poderá viver melhor, esperando sempre o pior do ser humano, podemos sim, melhorar a humanidade como um todo.

Assim como na política, o voto vale muito mais que o valor que se imagina que tenha, e elege um candidato apresentado como salvador da pátria, que não passa de um paria, assim como a essência do homem, que é mesquinha e bárbara. Pense negativamente sobre alguns assuntos, assim podemos atrair coisas positivas.

J B Ziegler
Enviado por J B Ziegler em 04/06/2008
Código do texto: T1019149
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