Imortalidade
Sério, de todas as imortalidades oferecidas pelo mundo, nenhuma me agrada. Existe a imortalidade das letras, onde o sujeito escreve, escreve, escreve e é, finalmente, escolhido por um grupo seleto de pessoas que escrevem, escrevem e escrevem. Daí o escolhido ganha uma farda e a imortalidade. Calma. Ele não se torna um fantasma, mas seu nome e seus escritos ganham a alcunha de eternos. Nome e escritos que irão ser referência da literatura nacional. Isso não quer dizer, que aqueles que não foram escolhidos não possam ter seus nomes e escritos eternizados. Hoje, basta ter um pequeno grupo de leitores e um computador que o sujeito pode se eternizar virtualmente. Eis algo novo: a eternidade virtual.
Existe também, a imortalidade artística. O sujeito tem uma sensibilidade acima do normal e a expressa na pintura, na escultura, na poesia, na música, na arquitetura, etc. Esse sujeito pode receber a sua imortalidade fazendo parte da Academia de Artes. Ali seu nome estará inscrito junto com suas obras. Assim como Picasso, Matisse, Rodin, Dante, etc. Todos imortais. Não, repito, seus nomes e suas obras permanecem. Não o fantasma de Picasso que continua a pintar, mas as suas obras e seu nome residem na eternidade. E para essa imortalidade também, o sujeito que não pertence a nenhuma Academia de Artes pode ter seu nome e obra eternizados, da mesma forma que foi apresentada no parágrafo anterior.
Atualmente, a instituição mundana que tem mais força em eternizar ou imortalizar alguém é o Cinema. Aqui também me refiro à televisão. Apesar de não conseguir separar uma da outra. O Oscar, prêmio máximo do cinema, é o deus mais poderoso que concede a imortalidade mais cobiçada pelos seres humanos. Ele já imortalizou milhares de artistas, ops!, de novo, imortalizou milhares de nomes de artistas. Diretores, atores, atrizes, etc., todos têm seus nomes e obras imortalizadas. Veja bem, aqui não entra o mérito de cada nomeação, pois o grupo seleto que escolhe é dirigido pelo deus imortalizador dos desejos humanos.
Poderia aqui oferecer vários exemplos de imortalidade concedida a nomes e obras por instituições diversas de nosso planeta. Mesmo assim, jamais estaria satisfeito por qualquer uma dessas imortalidades. Não quero que meu nome e obra sejam eternos ou imortalizados no registro de uma instituição qualquer. Dane-se a ABL, a Academia de Cinema, a Academia de Artes, o Nobel, etc. O que realmente eu quero é ser eterno, não só meu nome, mas eu mesmo, em carne e osso. Não preciso de nem nome, apenas deixe-me ser eterno. Desconhecido, ignorado e ignorante, mas um ser que realmente viva eternamente.