ABANDONO
Era lua de Sexta feira o calendário marcava dia doze, o frio que percorria sua
coluna a fez pensar em sexta feira treze, seu corpo silencioso estava como abandonado , nem uma mão para tocar na brancura de sua pele.
Apoiava a cabeça sobre o travesseiro cheiroso coberto com fronha de seda, não queria admitir sentia pena da própria solidão.
Com o braço esticado alcançou um espelho jogado na cabeceira da cama, Outros tempos estamparia largo sorriso para ver a perfeição dos dentes, nesse momento procurava o brilho dos olhos, mas, os traços maduros insistiam em mostrar uma maturidade anunciada com as primeiras rugas. Seus lábios bem delineados mostravam traços de um rosto atraente.
Sentia vontade de ter alguém para dividir, dúvidas, medos, planos, vitórias e alegrias.
Uma certeza se apossava de seu ser, era melhor não ter a responsabilidade em cuidar de outra vida, que não tivesse a alma unida a sua, mesmo com o corpo pedindo um abraço, cumpria sua saga. Obedecendo o pacto feito com si mesma em viver misteriosamente em estado de felicidade, até quando suportasse as reminiscências intrigantes oferecidos a cada minuto como uma trama terrível a lhe sugar a vida.
Quem sabe um dia mandaria tudo para o alto, então com a alma vazia num eterno recomeço, viveria outras luas, não sendo atéia nem anarquista, somente existindo, despida de tudo, não usando prata nem ouro, abandonando os ornamentos que servem para camuflar a tristeza. Caminharia descalça na areia úmida sentindo a liberdade em sentimento de abandono jamais imaginado.
Aida M. Domingos