A LAGOA ENCANTADA

 

Na escola era um comentário só: a lagoa. Todo mundo sonhava em conhecer aquela imensidão de água, atapetada por verdejante gramínea e ornada pelos arbustos que a rodeavam. Era um recanto paradisíaco e proibido e, por isso nos atraía tanto. Somente os familiares e amigos do proprietário podiam ter acesso àquela maravilha. Mas, para nós, moleques, que éramos conquistadores do impossível, aquela lagoa sempre constituía um desafio a ser vencido, o que fazíamos nos dias comuns, quando lá não se encontrava ninguém.   

Distava uns poucos quilômetros da cidade e existia um caminho delicioso que nos levava até lá, uma trilha no meio da mata, sempre úmida e refrescante onde íamos, alegres e contentes, a catar frutos que a mãe-natureza carinhosamente nos oferecia: pitangas rasteiras, grandes,   saborosas, muricis, gabirobas, bacuparis, marmelos e outras delícias. Volta e meia, parávamos para descansar debaixo de um pequizeiro, que generosamente, além da sombra, nos oferecia seu fruto amarelo, cuja polpa, devia ser mordida com cuidado, por causa dos traiçoeiros espinhos de que era constituída a sua semente.


 

E assim, após um delicioso descanso, seguíamos caminho, ora balançando num cipó, revivendo peripécias do Tarzan das matinês, ora imitando Durango Kid, ou outro dos muitos heróis que povoavam o nosso mundo dourado.


 

E lá estava ela! Uma imensidão azulada, cercada por belas árvores e verdejantes e floridos arbustos. Que paraíso! Era coisa de cinema e em cores, coisa que o cinema não tinha, porque os filmes eram em preto e branco, e a gente tinha  que imaginar a cor. Mas o colorido daquela maravilha era real e estava à nossa frente, ao nosso dispor, ao nosso bel-prazer!


 

Em silêncio, para não despertar atenção e para não dar mostra da nossa presença, mas com a felicidade a pulsar no coração e na alma, livrávamos de nossas roupas e entrávamos naquela água límpida, cristalina e deliciosa.


 

Era uma delícia deitar, ainda no raso, e sentir a suavidade do tapete aveludado que cobria todo o solo, e a tepidez da sua água, que jorrava de uma mina localizada bem no centro desta maravilha natural.


 

E era assim sempre. A lagoa era a nossa alegria e o nosso sonho encantado de menino. Até que um dia...

        (in Sant'Anna dos Olhos D'Água - Crônicas)

                       Vinhedo, 2 de junho de 2008.