NEM TUDO ESTÁ PERDIDO

NEM TUDO ESTÁ PERTIDO (1964)

DONATO RAMOS

do livro FOLHAS SOLTAS

(ao jornalista Adão Miranda - presidente do nosso Sindicato de Jornalistas) - (em memória)

Solução? Talvez haja. Haveria mesmo solução para “esta humanidade doida? Um par de sapatos únicos para todos os pés, é impossível”. O que pode haver é uma solução para cada indivíduo, de acordo com as suas dores, com os seus calos, o ambiente em que vive, a sua possibilidade econômica e espiritual. Isto de um modo grosso. Há, ainda, uma corrente sem fim de detalhes que, muitas vezes, botam a perder as nossas vontades e inclinações primárias.

Érico Veríssimo, se me lembro das leituras de criança, já dizia que a humanidade está doida varrida. Está caduca. “Transidos de frio, esfarrapados, doentes, outros sem vintém no bolso, os homens continuam a alimentar erros e ilusões de grandeza, desejos doidos e superstições, egoísmos e ódios”. Se bem que no meio da multidão, dessa população ignóbil de vermes, desse nó imenso desses bichinhos que dão na barriga, começam a surgir, sempre em maior número, personalidades, homens que se destacam da massa, que revelam ainda ânimo forte, espírito organizador. São vozes lúcidas e cheias de esperança no meio da desordem.

Mas os seus esforços são em vão, na maioria das vezes em que tentam fazer alguma coisa. Por quê? Porque a humanidade está velha e doida. Não quer, a velha humanidade doida e velha, se salvar de forma alguma. O hospício não tem paredes pois é o próprio mundo. A humanidade não está “boa da bola”, tem parafusos destorcidos.

Mas as vozes lúcidas não desanimam. Estão cheias de esperanças no meio da desordem, continuam a falar alto. No meio da turba alta vozes lúcidas se levantam e comandam, e promovem, e fazem, mesmo com a má vontade de outros.

Hoje quero levar os meus cumprimentos às pessoas que, de uma forma ou de outra, no meio da confusão da torre de babel que se forma, ainda têm a coragem para levantar a voz e dizer o que pensam e como pensam.

Do meio da multidão muitos rostos ainda se destacam... Muitas inteligências trabalham em prol da coletividade, da paz social, de melhores dias. A essas gotas d’água do imenso oceano, o meu abraço, a minha saudação. É o meu abraço aos clubes de serviço: Rotary, Lions, à organização de formação de líderes Câmara Júnior, Soroptimistas... É o meu abraço aos clubes de pessoas e entidades filantrópicas, aos jornalistas isolados ou em grupo, sempre procurando o bem-estar de todos nós, sempre procurando formar opiniões, discutindo, procurando caminhos. Aos homens e mulheres que conseguem ver além da tranqüilidade de seus lares e das suas mesas, as convulsões sociais que se verificam constantemente. A todos eles me dirijo hoje, desta Emissora, para dizer alto e bom som: Amigos... somos as gotas do imenso oceano de boa vontade que Brasil necessita. Enquanto houver uma alma assim, esperança haverá também.

Enquanto houver uma boca que sorri... mão que dá... espírito que procura soluções, enquanto houver compreensão entre os homens seja qual for a sua categoria profissional, seja qual for a sua religião ou a sua cor, haverá esperança para todos nós.

E poderemos dizer, sem medo de errar:

Nem tudo está perdido!

Alguém ainda vela por alguém.

Alguém se preocupa com alguém.

DONATO RAMOS
Enviado por DONATO RAMOS em 02/06/2008
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