INCÓGNITA

INCÓGNITA

DONATO RAMOS

do livro FOLHAS SOLTAS

Desvendar os mistérios da vida e da morte, quem há-de?

Desvendar os mistérios da doce saudade quem seria capaz?

Desvendar os mistérios do amor, quem haveria de fazê-lo?

Em casos isolados, já o problema sempre apresentou incógnitas indesvendáveis...

Quem diria que pudesse, então, desvendar os mistérios contidos na trilogia citada? Vida e morte se entrelaçam com amor e ódio, advindo daí a saudade que fez matar e reviver unicamente a pungente saudade...

O caso, assim distribuído e apresentado, é comuníssimo e não apresentaria nada mais além do lugar comum, com enxertos de literatura policial ou romances água-com-açúcar dos misterinhos de capa e espada, com beijos ao luar, venenos, fugas, assassinatos, etc.

Não pretendo me deter nessas cenas de há muito repassadas pela pena dos escritores os mais diversos.

O caso de que me ocupo atravessa as raias da sensatez por quem o promoveu e não é mais fácil do que desvendar, da trilogia única, o mistério que serve de tema para romance.

Gumercindo Reis residia em Laranjeiras, município de Taió, Santa Catarina. Cecília Félix Leite, também. Até aí, a história não oferece problemas a desvendar. Surge, no entanto, a parca impiedosa que leva Cecília ao outro lado da rua da vida e, à margem da estrada permanece quatro meses no descanso que deveria ser eterno.

Não o foi.

Isto porque o segundo fator da trilogia movimentada, se fez presente: a saudade de Gumercindo, transformada já em loucura, procura desvendar o mistério que os estudiosos até hoje não conseguiram.

Nas profundezas da noite escura, Gumercindo foi matar saudade. Tomando uma pá, desenterrou Cecília. O mau cheiro de seu corpo era perfume para a saudade... a cor de cera de sua pele era confundida pela negrura da noite... Gumercindo carregou-a uns 700 metros. Enterrou seu corpo novamente, cobrindo com leve camada de terra, deixando, apenas, sua cabeça à mostra.

O que se passou depois, apenas Gumercindo poderá dizer. O que sentiu talvez não poderá descrever. E, ninguém, em sã consciência, gostaria que ele dissesse.

Não serei eu, simples cronista de Rádio, a tentar desvendar o negro mistério da vida e da morte... A quê leva o amor? Até que ponto a saudade pode agüentar...?

Insanidade?

É o que se presume, partindo da lógica.

Cecília teria chamado Gumercindo naquela mesma noite negra e terrificante para o último ato de amor...?

Já se disse que entre o céu e a terra existem mistérios que a nossa vã filosofia não conseguirá, jamais, desvendar.

Este, é um deles.

DONATO RAMOS
Enviado por DONATO RAMOS em 02/06/2008
Código do texto: T1016027