Tamanhos no tempo.

 

Muitos anos depois, passear pelos arredores da velha casa e ficar admirando os dois andares, construídos com tábuas perfeitamente alinhadas, um telhado de elevado grau de inclinação, próprio para suportar nevascas que talvez nunca o tenham alcançado. Um cenário de encantar saudosistas e modernistas, no entanto, curti aquela sensação sem medo de ser taxado de nostálgico romântico, não que isso seja vergonhoso, mas simplesmente para dizer que estava livre de qualquer preconceito, apenas curtia aquele momento.

O tempo deixou suas marcas nas construções, objetos e na paisagem. O pequeno riacho que só podia ser atravessado com a ajuda de um tronco, pois servia como pinguela, agora parecia tão pequeno. Bastavam apenas alguns passos mais apresados e um pequeno impulso para transpô-lo. Já a árvore, de extraordinária grandeza, que sustentava o velho balanço, agora não passava de uma bela e frondosa árvore, porém sem aquele gigantismo que parecia ter naquela época em que sob sua sombra, decorava a tabuada.

Falo dessas coisas, não pela beleza ou saudade daquele tempo feliz, mas para dizer que tudo muda. Claro que isso é óbvio, mas existem muitas pessoas que tem várias passagens ou acontecimentos que ainda fazem parte do passado e que também permanecem muito vivos, perturbando-os nos dias atuais, apesar de que se desligar das coisas passadas ser recomendável e fundamental para se viver o presente.

Toda essa retrospectiva, no entanto, me fez perceber que tudo ganhara um enorme valor, mas que as árvores, a casa e o pequeno riacho que antes eram coisas gigantes, agora eram de proporção muito menor, correspondendo a atual realidade física e mental.

A questão do tamanho que atribuímos as coisas ao nosso redor, está relacionada a nossa consciência e percepção da realidade. Quando estamos diante de algum problema, essa percepção deturpada do tamanho ocorre com freqüência. Um pequeno problema visto pela perspectiva negativa, atemoriza e ganha uma dimensão gigantesca, quando na realidade não passa de um pequeno obstáculo, uma prova, uma experiência evolutiva.

 Assim como um pequeno córrego que parecia um enorme rio quando éramos criança, e, portanto, uma grande ameaça devido a frágil constituição física e até mesmo mental, porém, agora adultos, toma sua verdadeira proporção de pequeno e inofensivo riacho. O que nos mostra que o tamanho que atribuímos as nossas dificuldades está diretamente relacionado ao nosso desenvolvimento.

O autoconhecimento é a grande ferramenta para avaliar a dimensão de qualquer problema, por isso os que ainda não despertaram ou simplesmente são leigos no assunto, apresentam-se tranqüilos diante da situação. Este comportamento é idêntico para aqueles que conhecem a verdadeira dimensão do problema e o enfrentam cientes de suas condições. A diferença esta no fato de um crescer e se fortalecer com a superação e, o outro, que talvez também o tenha superado, nada aprende e nada agrega ao seu desenvolvimento pessoal.

 De qualquer forma, esses acabam dando ao problema, seja pelo real conhecimento ou pela total ignorância um tamanho semelhante. A dificuldade surge ao superdimensionarem à questão, levando a uma avaliação equivocada, decorrente do medo, do temor de enfrentá-lo, desperdiçando a oportunidade de conhecer e desenvolver suas capacidades e aptidões.  Uma das gratas surpresas do tempo é nos permitir a mudança e atribuir o real valor aos acontecimentos, tornando-nos mais sábios e conseqüentemente capazes de identificar o verdadeiro tamanho das coisas. Em contrapartida, envelhecemos fisicamente e aumentamos o tamanho das orelhas e do nariz, mas isso nada significa diante do crescimento pessoal que o tempo nos proporciona.

 Portanto, devemos levar a vida deixando o passado lá atrás e lembrá-lo apenas como aprendizado ou alegria, permitindo que a vida flua no presente, revendo crenças e valores do mesmo modo que algumas partes do corpo crescem e outras diminuem, ajustando-se a capacidade do esqueleto. Deste modo, o que hoje pode parecer ou realmente ser pequeno, amanhã pode se tornar enorme ou vice-versa. Assim como o projeto desta revista, que pode parecer pequeno para um leitor e gigantesco para o produtor, mas a verdade esta no tempo, que mostrará o seu tamanho real, embora isso já seja possível prever. Será gigantesco.

 

 

 

Caros Recantistas,

Desculpem a longa ausência, espero estar retornando para postar, comentar e principalmente matar a saudade que tenho de todos vocês e seus textos maravilhosos.....

Desejo a todos uma ótima semana.