Faca de dois gumes
Estava aqui pensando como a imaginação pode ser positiva e negativa. Leio algumas coisas e assisto a outras que me fazem refletir muito sobre isso, embora eu nunca chegue a uma conclusão. Na verdade chegar, eu chego, mas não consigo colocar em prática.
Essa semana eu revi o filme “Razão e Sensibilidade” e mais uma vez a razão sempre se sai bem e a sensibilidade se ferra bonito. No filme, duas irmãs são completamente diferentes. Enquanto uma delas é completamente romântica e apaixonada e se joga de cabeça nas relações, a outra pensa mil vezes antes de agir, se contém, sufoca o sentimento. Nem preciso dizer com qual delas me identifico. Mas é claro que no final do filme a Razão consegue casar com seu grande amor e ser feliz, já a outra acaba se casando com o homem que seria o ideal e não com aquele que ela realmente amava. É exatamente assim, não me enganei, não. A Razão é que se deu bem, afinal, ela pensa.
Meu marido costuma dizer que eu viajo muito. Sim, eu viajo. Eu sei disso. Acho até que já estive passeando com a minha amiga Alice no país das maravilhas. Somos muito amigas, Alice e eu, afinal nossa imaginação nos coloca em situações que vão de estranhas a perigosas. Certa vez, quase que a Alice me levou embora e eu deixei o meu marido aqui no mundo real. Mas o coelho me devolveu a tapas, antes que cortassem a minha cabeça. Ufa! Foi por muito pouco.
É aí que entra a faca de dois gumes. Ter imaginação, sensibilidade e ousadia é ótimo para escrever e para criar, mas é péssimo para viver a vida real. A vida é como a madrasta da Cinderela, é como a bruxa da Branca de Neve que te oferece uma linda maçã, mas quando você morde, você desmaia. Mas ainda há quem acredite que o príncipe vem acordar com um beijo. Quem será essa palhaça? Nem preciso responder, né?
Segundo o texto “Uma vida no lixo” do Sérgio Lisboa, “mesmo a pior das realidades é ainda mais viva e mais real e, por isso mesmo, mais válida do que quaisquer das melhores fantasias”. É uma frase que me deu um bofete quando li, mas que me fez pensar e, novamente, perceber que o real e o racional sempre são melhores e sempre se dão bem. A única época da minha vida em que consegui agir assim, foi quando parei de escrever, foi quando minha inspiração me deixou e tudo ficou com cara de normalidade. Felicidade? Não sei. Tranquilidade, eu diria.
Será que vale a pena fantasiar e se dar mal? E vale a pena viver na mesmice e na chatice para se dar bem? Como tudo na vida, o ideal seria atingir o equilíbrio do qual eu me sinto cada vez mais distante. Quando a minha vida fica muito normal, eu tenho até medo! Bom, vou parar por aqui, pois preciso levar as frutas para a vovozinha e, com sorte, encontro o lobo mau no caminho.