...AMOR, HOJE VOU DEIXAR MINHA VIDA IR AO VENTO...

Nada sobrou das grandes e boas batalhas que travamos. Discutíamos nossos desejos de forma saudável e "vencer" nunca foi o mais importante. Existia uma espécie de prazer ao domínio pelas palavras, e ela era absurdamente cativante com seu jeito firme de abaixar a guarda e ir se entregando ao que eu inconscientemente induzia com meus breves discursos sobre um assunto qualquer. O desinteresse das palavras que me chegam hoje é que me faz ter mais saudade, pois ela, com toda sua perspicácia e delicadeza me fez saber que o sexo é algo muito além da fricção dos corpos, é mais que o penetrar em seu corpo, pois só o orgasmo sem conquistar a alma alheia não significa nada. O nosso amor olhava para algo que ainda não havia acontecido, e esse mistério era o que fazia a vida funcionar sem o ranger dos dentes. Apostávamos nossas almas como poderíamos descobrir todas as faces do amor, e conseguimos, por breve momentos acariciar todas elas. Minha pele ainda queima apenas pela lembrança do olhar. Minha língua toca o ar na esperança da sua, e me chega apenas o gosto que ficou gravado no subconsciente. Eu tento encontrar sinais da tua vida em todos os cantos, eu me perco nos seus objetos perdidos que encontro jogados em meu quarto. Quarto que funciona como cativeiro de emoções que se recusam a sair para o banho de sol. Quando a noite chegar estarei pronto para deixar meus pensamentos ultrapassarem o limite de tempo e espaço, alcançando assim um passado que não terminou, de dias que se sorria por estar alegre a própria alma. Mulher, hoje o vento vai me levar até os seus pés, mas não estarei de joelhos...

"...Pai, me deixa caminhar ao vento

vento..." CHICO BUARQUE