ALMA DE PIJAMA

ALMA DE PIJAMA

DONATO RAMOS

do livro FOLHAS SOLTAS

No domingo a gente se abandona e se encontra. Sai do lado de fora da gente mesmo para entrar no íntimo e ver tanta coisa esquecida, tanta coisa que, se não víssemos, nunca acreditaríamos existir, nem de longe!

Abandono total... Lassidão mormacenta para quem se entrega aos braços de Morfeu, quando se coloca um pijama de sete listras: segunda, terça, quarta, quinta... a semana numa semana. Descansa-se. Outros penduram os pensamentos num cabide e ficam vazios, vazios... E como bom! Outros velam pela ignorância espiritual dos abandonados... sacrificam o seu período de lazer pelos outros... São os que rezam, os que pedem... Outros, ainda, têm a felicidade de morar perto da praia! Ah! As praias de Itajaí, Cabeçudas, Camboriú, Navegantes... As areias já começaram a sentir o contato meigo “dos pés das virgens brancas”...as virgens rosadas, cor de bronze, num raio de sol...

Sonhos de ouro das virgens de ouro que vieram de longe... tarde de ouro à beira da praia...

Nos ouvidos, versos do poeta vento.

Ondas de amor levando o tempo para fora da realidade comum... Dia lindo de praia, manhã de praia, praia que é vida, vida estuante de praia e areia... Praia que serve de berço e esquife. Nascer num dia assim, mas nunca morrer num dia assim, de sol assim, usando versos do poeta que nasceu num dia assim.

Na estrada de Brusque não tinha praia, não tinha areia, não tinha virgem de pés descalços, mas tinha uma menina de poucos anos.

Não tinha praia.

Não tinha ondas..

Mas tinha a imprudência de um motorista já, talvez, assassino.

E a menina morreu assim. Num dia assim. De sol assim.

Foi menina sem praia, sem areia, sem sol...

Sem ser virgem “de pés descalços”, porque, simplesmente, morreu assim.

DONATO RAMOS
Enviado por DONATO RAMOS em 01/06/2008
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