1988,1998,2008... e 2018?

Quando eu tinha 11 anos, em 1988, escrevia os meus textos e meus romances em um caderno brochurão a lápis e com um entusiasmo de dar inveja a muitos colegas que não gostavam de ler e , muito menos, escrever. Ouvia meus discos e fitas numa velha vitrola e assistia oito canais de TV. Via o Sítio do Pica-pau Amarelo nas reprises da TV Cultura e curtia a novela “Bebê a Bordo”, o programa “Chaves”, e o Silvio Santos aos domingos. Ah! Tinha “Os Trapalhões, também, às sete da noite.

Dez anos depois, em 1998, escrevia na minha máquina de escrever elétrica e já escrevia romances com mais de cem páginas. Ficaram guardados na minha escrivaninha. Continuava ouvir minhas músicas nos discos e fitas em um som um pouco mais moderno. Tive o primeiro telefone móvel. Mas só recebia ligações. Ligar somente quando era urgente. Já começava a ensaiar uma tímida coleção de CD’s. Se eu tinha cinco era muito. Ao contrário de 88, não tinha mais álbuns de figurinhas e não jogava o Pac Man no Atari, já tinha jogos modernos no Pentiun que eu tinha na minha casa. Internet era discada e tinha que esperar dar meia-noite para conversar nos chats. O famoso bate-papo. Era a única interação na rede.

Em 88, via os preços mudarem todo dia e eu não entendia o porquê que a moeda do Brasil chamava “Cruzado” e era tão festejada a mudança da Constituinte. Ouvia a tal do fim da ditadura. Em 98, a estabilidade financeira no País fez o “real” ser a moeda da vez no Brasil e lá fora, o dólar continuava a ser o Sr. Dólar.

Em 98, vi “Torre de Babel” e não empolgou. Ao contrário de “Bebê a Bordo”. Vi que meu telefone fixo não valia um tostão, como em 88. E o caro era ter um DVD ou TV a cabo.

Em 2008, tenho uma TV com mais de dez canais, um computador portátil e escrevo meus textos e livros para o mundo todo. Afinal, estou publicando na internet que agora é banda larga e atinge o Brasil todo. O mundo todo. Este texto vai ser lido por muitos. Enquanto, os livros que escrevi em 88 e 98 ficavam só para mim. Neste ano, tenho um celular que grava, tira fotografias e filma. O Brasil tem um presidente da República que já foi do povo e o real continua sendo a moeda do País.

Interessante notar que de 1988 a 1998 pouca coisa mudou. Mas de 98 a 2008 houve um boom! Principalmente, na tecnologia. Estamos na era da TV digital. Na era da interatividade. Não somos meros telespectadores mais. Somos coadjuvantes. Palpitamos em tudo. Até no texto do outro.

Em 98, sempre tinha dez reais na carteira. E era muito dinheiro. Em 2008, tenho um cartão de plástico que resolve a minha vida. Em 88, recebia os cruzados para merendar na escola e fazia uma festa!

Em 88, dava beijos no rosto. Em 98, já beijava na boca. E em 2008, penso até em casamento. Em 88, o pobre e o rico eram que faziam diferença em uma sala de aula. Em 98, era perceptível o comportamento do gay e do metaleiro. Agora em 2008, tenho amigos emos e casais gays são tão normais como a vida sexual dos namorados dos anos 80 e a moda “ficar” dos anos 90.

E em 2018? Verei, finalmente, carros voadores? Homens poderão engravidar? A Aids terá cura? E o Câncer? Casais gays serão tão simples de ver, como o tradicional “mamãe e papai” na cama? O real será a nossa moeda ou teremos uma moeda única em toda a América Latina? Lula voltará a governar o País? Ou não estaremos mais aqui para vermos a comida escassa e a comunhão combatida pelo capitalismo exarcebado?

Vinte anos depois de ouvir Cazuza, cantando Brasil, dez anos depois de ouvir um “segura o tchan” e ouvindo, hoje, a dança do creu, o que ouvirei em 2018?

Ah! Se houvesse uma máquina do tempo...

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