A falência da ética

Conta à lenda que, há alguns anos os líderes do céu e do inferno estiveram reunidos para convocar uma assembléia geral. Queriam discutir sobre o futuro de um País de carnaval chamado Brasil. Chegar a um entendimento para promover a ordem. E, caso o tempo permitisse, promover uma mudança de cardápio: queriam trocar a pizza, recheada de gordura trans, para uma dieta mais light. Isso porque estava constatado que o excesso de pizza era a causa do aumento de peso registrado na população. Mas vejam bem, essa comilança de pizza não possuía co-relação com o fato de o País viver inundado em podridão não.

O líder do inferno decidiu impor algumas regras: não queria que nada desse certo, e caprichou nas condições: para existir a assembléia, nesse dia seria proibido mentir, ludibriar, enganar, roubar, desviar dinheiro público, andar com a mulher do vizinho, paquerar a melhor amiga da esposa, roubar doces no caixa do supermercado, enganar criancinhas ou pegar estas no colo para garantir votos, e por ai vai.

O líder do céu preparou a minuta do acordo. Mas, como os funcionários do inferno estavam em greve por falta de pagamento, a assinatura teve que esperar para o dia seguinte. Um amigo do amigo do oficial de despacho acabou comentando o assunto. E os termos do acordo foram parar nas mãos da imprensa. Que lascou a notícia em primeira mão.

E, foi aí que tudo aconteceu: lideranças de todo o Brasil estavam mobilizadas para participar da assembléia. Mas, ao saberem das condições do acordo, resolveram boicotar o evento, antes mesmo de ele começar. Deflagrou-se uma greve geral no País e, a partir deste dia, morreu a ética, a vergonha, o respeito, o caráter, a moral.

Alguns movimentos de resistência sobreviveram. Escondidos, eles se alimentam dos restos, e se contentam com as segundas opções, ou escalões. Devido às condições sub-humanas, alguns desistem com o tempo. Ou, ainda, vão sendo caçados pelas maiorias. Enquanto isso o País lança, a cada dia, uma pizza de novo sabor.

(Edna Lautert – jornalista, membro da Academia Santo-angelense de Letras)

Edna Lautert
Enviado por Edna Lautert em 31/05/2008
Código do texto: T1013132
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