AS INTER-INVENCIONICES - Berenice Heringer

Está tramitando na ALES um projeto de lei proibindo a realização de festas Rave no Espírito Santo. Aí começou o estica-encolhe dos que levam vantagem no em torno dos eventos. O revendedor de bugigangas, enfeites, porcarias disse que precisa manter a família. Houve uma consulta popular por telefone. Uma cidadã como eu, do contra, intolerante, que corta rente, não consegue uma ligação para dizer sim, sou a favor de que acabem essas folias.

Os envolvidos congestionam as linhas, defendem e não dão chance. As vans clandestinas, o dono do carrinho de hot-dog, os maquiadores, os repassadores de estupefacientes, o mauricinho que traz docinhos e drágeas rosa da Europa, os telões, sonzões, repositores e coletores de tralhas e descartáveis, cervejeiros. Eles estão defendendo o que não querem saber. Se o filho do patrão se droga e perde as estribeiras nas orgias, o porteiro da noite acha que não tem nada a ver com isso. Que moral dupla é esta? Agora tem também a tal de Trance, nem sei o que é, deve ser mais um bicho nessa floresta intrincada de modismos from USA. Eles se defendem, os organizadores das festanças, dizem que têm licença, recolhem alimentos não perecíveis para obras sociais, doam percentual de ingressos à APAE.

Para eles não importa que universitários consumam litros de vodka, um safado sem habilitação atropele mais de vinte pessoas, que haja ferimentos, estupros, assassinatos, desmaios, incêndios, óbitos por overdoses, afogamentos em piscinas, eletrochoques fatídicos. É desnecessário listar. Os canais televisivos estão entupidos dessas sujeiras.

Os caras aliciam e violentam uma menina, filmam tudo e a performance corre na rede internacional em tempo real, em cores vivas e sons estertorantes. O pai da garota viu a cena na rede, estando nos EUA.

O Marquês de Sade, o famosíssimo, era defensor de que as orgias sexuais devem ser a regra e não a exceção. Mas naquele tempo ainda não existiam as drogas poderosas de hoje. Será que o paraíso sadeano está definitivamente instalado agora? Ele afirmou que o puritanismo é o avesso da pornografia. O puritanismo só existiu mesmo na era vitoriana. Já fiz uma pesquisa extensa sobre o que é ser puro, moral, inatacável, virtudes que a Religião enaltece, principalmente os evangélicos, que não gostam mais de ser chamados de protestantes.. Esse trabalho tem o nome de Incunabulo, religião para leigos, parte integrante da obra Os Argonautas - Epopéia dos Primeiros Imigrantes Alemães e seus Descendentes no Brasil. Também será incluida num ensaio com seis tópicos, uma separata, num projeto que está sendo diagramado e que foi batizado de Pergamon.

Será que somos obrigados a importar, adotar e reverenciar qualquer porcaria que vem de fora? O pior e mais grave: o cidadão que não aceita, não quer por achar perigoso, nocivo, decadente, deletério, uma armadilha para os jovens, oneroso, pode ser pressionado a aceitar pela chorumela dos que estão por baixo mas lucram com a desgraça alheia, ou ser taxado de politicamente incorreto. Por mim, não me abalo com nenhum pressionamento.

As criancinhas do Paraná estão intoxicadas na faina diária de manusear folhas de tabaco. Os pais estão endividados, são reféns dos compradores de fumo para as grandes fábricas desse veneno. Qual a posição das autoridades? De que vale o tão elogiado Estatuto da Criança e do Adolescente? Enrolar folhas de fumo, fazer "bonecas" do vegetal murcho repleto de substâncias tóxicas, será válido para aqueles que pregam que os adultos têm de sobreviver?

Isso é tão imoral que fico indignada. Não há limites nesse mundão globalizado, desonesto e explorador? Os pais estão obrigando suas crianças a se corromper. Isto é igualzinho à "tarefa" de servir de mula e avião nos morros, carreando drogas para traficantee e viciados.

Vila Velha, 29 de maio de 2008.

Berenice Heringer
Enviado por Berenice Heringer em 31/05/2008
Código do texto: T1013064