Chuca-Chuca e Chup-Chup - Berenice Heringer

Noutro dia falei sobre a Neotenia que o zoólogo Desmond Morris usou para descrever a infância prolongada do homem. Acho que o termo, pelo menos inicialmente, era para os meninos. As meninas brincam de fogãozinho, carrinhos de bonecas e logo se consideram Mulherzinhas. Portanto, falo dos meninos com falos, confabulando e corfa -burlando em vários sentidos e geometrias..

Em tempos que já lá vão, as mamães faziam o chuca ou chuquinha nos cabelos dos seus bebês, um cacho enrolado no cocoruto, com cuidado por causa da moleira. Até usavam espuma de sabonete como fixador. Agora os marmanjos ressuscitaram o chuca-chuca, até quarentões e sessentões que ainda possuem cabelos. Creio que isso confirma a neotenia, até desloca o período e o estende dos 23 para além dos entas. Também a moda de raspar os cabelos da cabeça. A gente tem de delimitar a área, porque alguns submeteram todos os pêlos corpóreos ao raio laser. Só para os eleitos, claro. É muito caro.

Meu filho mais novo, oi Luciano Carlos!, completando a idade de Cristo em julho, nunca mais, desde que entrou na universidade aos 17 anos, deixou o cabelo crescer. Corta rente e nem me lembro mais de como é seu cabelo, em criança era lindíssimo. Ele diz que corta rente porque é mais prático, fácil e barato. Menos champu, menos suor, nenhum pente. O outro, oi Wilson! , de 38 aninhos, um latagão de mais de 1,90 de altura, também corta o cabelo rente.

O professor da academia de musculação, oi, Rodrigo!, me disse, hoje, que decepa os fios por praticidade e economia, para não ter trabalho. Os que optam pela máquina zero não fazem o chuca-chuca. Mas não estão ausentes da estatística. Os bebês também são carecas, o que nos remete outra vez à neotenia. Esta é a melhor parte...

Vamos cair de cabeça na segunda sessão do filme, o chup-chup. Em Conceição da Barra, onde passei um bom tempo da minha adolescência, a gente saboreava os melhores chup-chups, de coco fresco ralado, os pacotinhos congelados, uma delícia. Essa é ainda a parte do celulóide romântico. Estou quase desistindo de entrar no quarto do terror atual para tirar os esqueletos do armário e montar a cena de Carrie, a estranha. Sempre me considerei ingênua, ignorante, por ter sido criada na roça, com pouquíssimo acesso a livros, informações, conhecimentos do mundo e das pessoas. Agora que fui salva (há uns 26 anos) primeiro pela literatura e depois pela Psicanálise, não existe nenhum assunto-tabu para mim. Escancaro os cômodos sombrios e sombreados, levanto a tampa dos baús, retiro as trancas dos alçapões, desço as escadas dos porões e não serei jamais Berta, a esperta, que empacou na subida e nem ressurgiu das penumbras. Quando me casei sabia do meu pequeno orifício mas não adivinhava nada dos "ofícios e sacrifícios no altar de Afrodite", como diz apropriadamente Eduardo Almeida Reis, autor do que ele chama textículos no jornal Hoje em Dia de BH. Minha irmãzinha do meio se casou aos 17 anos de idade. Não sei por qual mágica ela teve acesso a um manual de vida sexual cujo autor, o Dr. Fritz Kahn, é uma autoridade no assunto. Não pude ler o livro. Eu não era a vestal-virgem escalada para o aras. Naqueles idos não sabia, claro, que havia outra modalidade de prática sexual diferente daquela que a gente presenciava nos animais macho-fêmea da fazenda. Passaram-se alguns milênios de dias de sol-chuva-tempestades, bonanças, encalhes, escaleres à deriva...

Arrematando, depois de tanto arremedo e variados rodeios, só nos livros e no estudo sobre perversão em Psicanálise e Psiquiatria é que fui saber que os homossexuais são peritos useiros e vezeiros no boca naquilo e aquilo na boca, o popular chup-chup.

VV 28/maio/2008.

Berenice Heringer
Enviado por Berenice Heringer em 31/05/2008
Código do texto: T1013063