AMORTESSITURAS - Berenice Heringer

"Lindas Montanhas e Porões Escuros..."

Isto foi o que disse um taxista austríaco referindo-se ao seu país. Esta é a perspectiva do próprio ser humano, o que FWN chama de perspectiva de rã, de baixo para cima. O panorama à vista e o avesso camuflado sob a ilusão da parência. Por isso é que os psiquiatras e psicanalistas são impopulares para o povão. É o negócio do espelho, que aqui não é o caso do vidraceiro. Ninguém acredita que vai morrer. Mas é o próximo e único ganhador da mega-sena acumulada.

O que vigora é a lei do desejo. "Aguardando a Aurora que iluminará nossos passos..."(Paul Claudel) As mulheres, então, são todas Dona Prosa e Dona Proeza.

Nestes anos pós-guerra, todos os motivos estão voltando à tona, mesmo depois de 60 anos.

Seremos sempre a geração pós-conflito? As conflitâncias e militâncias aí estão. As FARC são as farpas do ilusionismo decadente e demodée, aquele falso idealismo mega-utópico.

Os apologistas da campanha "Salve o Planeta", será que se conscientizaram e são independentes mesmo para levantar e levar avante o lábaro que ostentas estrelado na prevenção do caos do dia seguinte, que já é ontem? Não vejo nada de concreto, efetivamente. Dizer à criancinha para fechar a torneira enquanto escova os dentes parece piada. Os capitães da indústria exaurem os manaciais, esgotam as fontes, empesteiam o ar, soterram os riachos sob as avalanches de resíduos, refugos e plásticos indestrutíveis. Querem que o cidadão, de per se, pague a conta do despautério. Eu me recuso. Acho que as chaminés das fábricas devem fazer stop, stop.. Nossos pulmões estão cof, cof...

Somos a terceira geração pós WWII. Primeiro nos ensinaram a calar sobre os acontecimentos. E se por acaso a gente sabia de alguma coisa seria mais prudente esquecer. Depois negar de pés-juntos como fazem os delituosos delinqüentes. (O trema vai cair, mas ainda estou fazendo meu dever de casa). Procurar a causa... Todos, os que se autorizaram a discordar ficaram exaustos na busca e jamais descobriram a significância de nada. Agora, cada qual é exortado a colocar a mão na consciência...

O Dr. Philippe Julien, psicanalista e escritor francês, que tenho a honra de conhecer pessoalmente, disse num livro: "há uma trilha pessoal, aleatória, evolutiva e complexa."

A identidade se destaca do grupo, não é simplista, mas uma tentativa de construção, devendo-se substituir o Por quê? pelo O quê fazer disso? O horror absoluto e os novos horrores ainda por nascer. Luz, câmera, ação!

Como podemos atingir os insaciáveis fabricadores em suas casamatas de ambição, seus bunkers inexpugnáveis do progresso a qualquer custo, mesmo com o grande sacrifício da sobrevivência em detrimento do supérfluo? Supérfluo não é o luxo como se pensava ingenuamennte antes. Não é a jóia, o perfume, a roupa de grife, mas sim o carrão veloz com um só ocupante, as montanhas de embalagens de comida- pronta, o pret-à-porter virou pret-à-manger, o lixão atômico dos eletroeletrônicos, cada cidadão com três celulares, famílias miseráveis procriando sem parar, 50 novas fábricas de cerveja a cada ano, milhões de toneladas de ecstase, skank, LSD, milhares de mega-watts de eletro-music discovery.

Fico cansada nessa maratona da insensatez. Quero registrar os 60 nos de Israel, falar sobre o holocausto e a modernidade que virou um caos, essa coisa evidente e avassaladora que demoliu as "certezas e instalou o negativismo". Não o nihilismo, mas a negação das evidências, a sonolência do comodismo e o refúgio na inércia do ilusionismo.

Acabou meu tempo-espaço e deixo o restinho dos meus pensamentos para as próximas maldigitadas, mas muito bem digeridas idéias e indag-ações. Vila Velha, 27/05/08

Berenice Heringer
Enviado por Berenice Heringer em 31/05/2008
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