Tic e tac, tic tac, tictac

Todo dia roubam meu tempo, um pouquinho de cada vez, poucas horas por dia, dias por semanas, semanas por meses, meses por anos, anos por vida.

Todo dia me vejo envelhecendo, pouco a pouco, uma ruga ou fio branco ou transpiração por dia.

Meu tempo esvai em ônibus para estudar, trabalho para sobreviver, mais trabalho para viver, filas de banco, banheiro, sono em demasia e milhares de outras estripulias humanas.

Meu tempo esvai junto comigo, pouco a pouco vou sumindo e atravessando a vida a passos lentos, vários deles distraídos.

O relógio dá mais uma volta, o mundo dá mais uma volta em torno de si, eu dou mais uma volta em torno do sol.

Nessas voltas cronológicas e sem retorno, vou vendo nas fotos o sorriso que não tenho no espelho e idealizo no espelho o sorriso que quero repetir em futuras fotos. Perda de tempo...

Trabalhos inúteis, ações impensadas, maquinarias, automáticas, alimento-me rápido, devoro com voracidade a comida, destruo a dentadas frenéticas e catastróficas, rápidas. Passos velozes, vida curta, despertador desperta a dor de envelhecer, inibe a delícia de saber, de sabedoria, de viver e pensar a vida. Pra todos falta tempo, quem faz meu tempo? Me dêem tempo, não pressa! Qual o gosto do pão que comi hoje? Fast food, microondas, feijoada enlatada, azeitona sem caroço, massa pronta, ejaculação precoce, pré-eliminares só sábado e domingo, mais passos rápidos, tic... e tac..., tic tac, tictac, miojo.

Por onde andei pra chegar aonde cheguei, pra chegar aqui? Não sei, não sei... Estou cansado e sem tempo pra pensar e reler o texto...

Enzo Pinho
Enviado por Enzo Pinho em 30/05/2008
Reeditado em 08/06/2008
Código do texto: T1012625