Precisa-se de um Namorado
O espaço era curto pra tudo o que pretendia dizer, mas ao certo a objetividade é mais estimulante aos olhos dos que deveriam ler. Em negrito, as letras garrafais: PRECISA-SE DE UM NAMORADO. Companheiro, interessante, alto - ela nunca gostara dos mais baixos, preferência que resultou de uma leve revolta que carregava nos seus longos 25 anos de baixa estatura. Disponibilidade para início imediato. Não se exige experiência, tampouco conhecimento técnico aprofundado. Ofereço boa companhia, programação cultural e diversão. Interessados, ligar para 92010000 até dia 12/06.
Ah se mamãe soubesse desse anúncio..! Tem coisas que não se conta nem para o melhor amigo, muito menos para as mães. Os tempos são outros, necessidades diversas e situações incontestavelmente diferentes. Tenho saudade do século XX, apesar de pouco tempo de desfrute emocional, mas a saudade persiste como fio sobrevivente de uma esperança às vezes cansada de esperar. Os romances eram mais romances, as flores mais valorizadas, o cavalheirismo ainda subsistia – ainda que em menores doses, mas se fazia presente mesmo assim. Os homens, àqueles anos (que agora me parecem distantes demais), permitiam-se à paixão, e nós mulheres estimulávamos o amor. O tempo não andou tanto assim, mas as pessoas correram demais, libertaram-se de todos os estigmas e entregaram-se, de corpo e alma, ao prazer. Mas que fique claro aos leitores do jornal que, de forma alguma, meu intuito não é pré-conceitual à valorização dessa forma de pensar (e agir), mas tão somente saudoso de um tempo não tão distante em que se via mais amor – do que prazer.
Com tanta novidade, tanta liberalidade, ninguém se submete aos costumes bobos e demodês que o romance costumava ter, já que mais lucrativo será a busca constante e incessante de nosso próprio deleite, findando numa remissão de tantas outras coisas que o relacionamento é revestido, e assim o mundo tornou-se objetivo nas relações inter-pessoais. Não há mais motivos para perder tempo ao longo de conquistas demoradas e incertas se gozamos objetivamente, sem vínculo nenhum.