O GOL DO GHIGGIA
Do dia 16 de julho de 1950, me lembro que era um domingo de sol, tinha 12 anos, não me lembro da chegada ao Maracanã, lembro do meu pai dizendo que foi gol do Uruguai, não vi porque o sol batia de frente, foi o segundo, a bola mal encostou na rede; me lembro do primeiro, gol do Schiaffino, no meio da área, de voleio, me lembro do gol do Friaça no início do segundo tempo, ele fechou da ponta pra dentro da área e fulminou o Maspoli, me lembro do Ademir cabeceando para o gol, no final do jogo, me disseram que foi o Friaça... pra mim, bateu na trave que não era redonda como agora é, voltou com força e o Queixada meteu pra dentro num sem-pulo que rasgou a rede. Sonhei, foi dois a dois. O povo cantou nas ruas e encheu os bares, foi assim... Nelson Rodrigues escreveu uma crônica antológica com o sobrenatural do Almeida no dia seguinte da Copa, o Presidente veio pras ruas e tirou a gravata, nada me perturbava, aquele é que foi o ano dourado, o gol do Ghiggia foi de chute fraquinho, gol-porcaria que me enganou.
É bom ter 70 anos.