Inverno...

O inverno

Quase final de outono e inicio do inverno friorento de Porto Alegre. As folhas caem, e abarrotam o chão do parque farroupilha, parece um grande tapete de folhas amarelas, roxas e verdes. Há uma brisa fria, uma neblina e muitos caminhantes, passeantes, também solitários desavisados do frio de Porto Alegre em todas as manhãs que passo pela Redenção. Observo através dos vidros aconchegantes do carro, o mundo ao redor, crianças indo para a escola, algumas agasalhadas, outras não, algumas por opção própria e modismo andam com poucas roupas. Entretanto algumas não se agasalham pela falta mesmo de roupas adequadas ao inverno tenebroso de Porto Alegre.

Esta estação é arduamente dolorida para algumas pessoas, aquelas desprovidas de recursos, de roupas, de casa, de amores, de amantes, de acompanhantes.... De alguém para aquecê-los. Anda muito frio, o minuano bate nas árvores sibilando nos nossos ouvidos causando uma estranheza dolorida, massificando e atordoando nossos ossos, trazendo uma vontade endoidecida, devastadora de correr para casa. Quando chove é mais triste. Lembro-me de uma música: Chove, lá fora, faz tanto frio... Onde está você? Adoro o inverno, o sol aquecendo as praças, as pessoas e sua elegância natural nas roupas de tempo frio, o vinho, as lasanhas, as massas em geral nos aquecem na friagem infernal de Porto Alegre.

Entretanto, o inverno possui um preço para alguns: a solidão. É o isolamento que nos invade quando chegamos à casa no final do dia e não temos ninguém para nos aquecermos, dividir o vinho, a lasanha. A casa fica desamparada fria, mostrando nessas horas com mais intensidade, o espaço aberto pela falta do sorriso de alguém que foi embora. Tudo isso se agrava com o recolhimento das pessoas, parece que nos voltamos para o nosso interior procurando nos aquecer com nossas lareiras interiores. Inverno... Inverno alongado e desabitado com sua falta de acalento Mas, o inverno é lindo em Porto Alegre mesmo com sua sozinhez sem fim, as noites ocas com o vento minuano assoviando nas janelas.

Então, mais uma manhã fria... Parece inverno... Percorro o Parque farroupilha através dos vidros aconchegantes do carro, tantas árvores que se vergam dominadas pelo vento que devasta... As folhas caem lá fora... Mais um inverno cinzento... Há uma cerração fria, embaçado os vidros e tantos caminhantes, passeantes resguardados ou não caminham alheios ao frio que lhes corta a alma. Muitas crianças solitárias sem o aconchego dos pais a caminho da escola percorrem o caminho cheio de névoa. Tantos moradores de rua, no inverno de Porto Alegre, solitários, desamparados, descampados, desacompanhados, descamisados, desapoiados, desajudados, desprezados, e principalmente desabitados de lar, aconchego, amor, carinho,

29/05/2008

Isa Piedras