Histórias de pescadores
A Deus dará.
Eram casebres de pescadores em praias distantes,
pouco habitadas . Dentro, quase nada havia.
Apenas algumas pessoas , vagarosamente, se moviam.
Em cada olhar uma sabedoria , em cada prateleira uma relíquia trazida de mares navegados.
Uma arcada de tubarão virava rústico
relógio de parede . Uma concha maior , um porta- jóia
onde se guardava colares de seixos .
Flores plantadas em latas de óleo , enfeitavam as
pequenas janelas .
A conversa em voz baixa contava casos de navios
naufragados , jangadas e velas.
Barcos pesqueiros que desapareciam em ondas
gigantes e ventos boçais ; deixavam lágrimas viúvas
em rostos apagados de saudades.
As rugas ao redor dos olhos vincados pelo
sol constante , escondiam um olhar distante
mas ainda cheio de expectativas.
Hoje , o mar estava para peixes .
Levaram o pequeno pesqueiro azul e branco com cuidado ,
chamado Leonora , para além do arrecife e foram.
Daqui a dois ou três dias, de volta estariam.
Enquanto cozinhavam cabeças de camarão
e patas de siri para o caldo do almoço ,
Leonoras pensavam na vida. Na vida !
E dos seus lábios saíam espremidas ,
pequenas preces inventadas,
decoradas , repetidas...Sábias.