CITY TOUR EM MONTEVIDEO
O apartamento do hotel onde nos hospedamos, em Montevideo, tinha bom tamanho, cama de casal king size, uma escrivaninha sobre a qual repousavam à nossa disposição caneta e bloco de papel, um sofá ao lado da cama e próximo à janela, dividindo espaço com um abajur de alto porte, luzes por todos os cantos, tv de 39 polegadas com monitor LCD, programação a cabo e controle remoto, banheira, dois lavatórios, mais um chuveiro, água quente em abundância, demais acessórios de toillete, enorme armário munido de cofre cujo segredo o próprio hóspede se encarregava de criar e a suntuosidade típica das grandes hospedarias destinadas a estrangeiros. Ante a presença de tanto conforto, dormimos feito crianças na nossa primeira noite no Uruguai.
Dia seguinte, pouco depois das nove, nos dirigimos ao salão do restaurante para o café da manhã, àquela altura quase completamente lotado. O horário do desjejum no Sheraton é das seis e meia até as dez horas, e nesse primeiro dia vi acontecer algo bastante inusitado e, que eu lembre, não testemunhei em nenhum outro hotel onde já fiquei hospedado no Brasil e no exterior: normalmente os casais ou os grupos de pessoas viajando juntas têm o habito de conversar enquanto degustam as guloseimas do bufet oferecido pelo hotel onde se hospedaram, enquanto isso o tempo vai passando quase imperceptível para quem tem muito tempo. Poucos minutos antes das dez eu olhei distraído para a entrada do restaurante e vi alguns hóspedes chegando ao recinto com o intuito de tomar o café da manhão, naturalmente. Só que, àquela altura, os garçons, em marcha apressada, correndo mesmo, haviam começado a retirar o bufet sob os olhos atônitos dos que chegavam. Sem a menor cerimônia, como se temessem ser solicitados pelos hóspedes a deixar os alimentos onde se encontravam para que eles, ainda dentro do horário, pudessem desfrutar o desjejum. Muitos dos hóspedes, sem acreditar que aquilo estivesse realmente acontecendo, apressavam-se em colocar nos pratinhos ao menos um pãozinho à medida que os garçons carregavam tudo para a cozinha, aos atropelos, esbarrando em quem tentava se servir e desviando deles para que não tivessem condições de pegar alguma coisa nas bandejas já sendo levadas por eles. Que estranho comportamento daquele hotel!
Fomos explorar um pouco da cidade e garimpar algum restaurante para o almoço antes do city tour à tarde. A brisa meio gelada batendo em nossos rostos anunciava que a temperatura certamente beirava os seis graus. Os plátanos farfalhavam suas folhas, algumas delas caindo suavemente nas calçadas, o povo agasalhado circulava pelas ruas e lojas cabisbaixo e fumando, decerto pensativo, a capital uruguaia se descortinava aos nossos olhos e abria seus mistérios para nós. Havia sol, mas seu calor não era páreo para o frio envolvendo a cidade, daí não conseguia sobrepujar o ar de geladeira aberta a que se assemelhava Montevideo naquela manhã, já por volta das onze horas.
Caminhamos pela 18 de julho, atravessamos a Ejida, a San Jose e suas imediações, e quando demos conta já passava do meio-dia. Encontramos um restaurante chinês aconchegante nas proximidades da San José, frequentado naquele momento por chineses e norte-americanos, gostamos do cardápio e ali mesmo almoçamos ao lado da janela envidraçada, vendo o pulsar da rotina daquele povo nas pessoas e nos carros indo e vindo e seguindo em frente a vida à medida que o tempo passava.
O tour pelos principais pontos turísticos de Montevideo foi o trivial. O Uruguai é um país pequeno se comparado ao Brasil, com uma população de mais ou menos três milhoes de habitantes, a metade residindo na capital. Colonizada pelos espanhóis, há muitos descendentes europeus e sua arquitetura apresenta evidentes traços do Velho Mundo em seus prédios monumentais. Devido ao trânsito intenso e ao ruge-ruge das pessoas circulando não foi possível estacionar em muitos lugares, e nos contentamos somente em ver através dos vidros do micro-ônibus os lugares e edifícios mais interessantes que nos eram exibidos por um guia falando espanhol numa rapidez intolerante. Ainda bem que o motorista se comunicava em português e, vez por outra, conseguia traduzir para mim e minha esposa(os outros turistas eram chilenos, colombianos e um casal de norte-americanos) as colocações mais importantes do trajeto. Passamos pela Plaza Independência, Plaza de la Constitución, Catedral Metropolitana, Cerro de Montevideo, Residência Presidencial, o obelisco, Cabildo, vimos o bairro das mansões e os bairros da triste pobreza, estes porque para chegar a um antigo forte, hoje transformado em museu da polícia, encravado no ponto mais alto da capital era necessário enveredar por eles. Aliás, a vista panorâmica da cidade torna-se espetacular sob a perspectiva daquele local. E foi lá que, divisando a refinaria de petróleo, soubemos que o Uruguai não produz o ouro negro por isso importa-o de diversos países, inclusive do Brasil.
Na volta do tour fomos para o Punta Carretas, um antigo presídio transformado em shopping depos de reformado. É um lindo e aconchegante espaço onde diversas marcas mundiais da moda estão presentes para o gáudio dos nababos uruguaios. E foi nesse shopping onde terminamos o périplo por Montevideo porque no dia seguinte partiríamos para Punta del Este.