LEITORES FUNCIONAIS
Minha mãe leu o meu livro esse ano. Tudo bem, dirão alguns, nada mais normal que uma mãe leia o livro do filho. "Normal"? Não exatamente! Perguntem a ela, quantos livros ela leu no ano passado ou no retrasado e a resposta será: nenhum!
Ela saber ler e escrever, mas como boa parte dos brasileiros, ela não gosta de leitura e prefere a televisão. Nenhuma novidade, afinal, todos sabem: Somos sempre destaque nas manchetes internacionais sobre educação, com o nosso índice cada vez mais alto de alfabetismo funcional. Somando quase 70% da população economicamente ativa, os alfabetizados funcionais estão por todos os lados e muitas vezes, ocupam cargos vitais para o sucesso do nosso país ( qual será o último livro que o Presidente leu?). Eles são pessoas que foram à escola, sabem ler e escrever, mas não conseguem compreender a palavra escrita, ler bons livros, jornais ou revistas e interpretá-los.
Pelo menos sobra 30% de leitores por ai. Ledo engano! Em recente estudo feito pelo Instituto Pró-Livro e desenvolvido pelo Ibope, foi constatado que o brasileiro que não é um alfabetizado funcional, apenas lê 1.3 livros por ano ( o número sobe para 4.3 livros por ano, quando se leva em conta os estudantes, mas todos nós sabemos, 99% dos estudantes só lêem por obrigação).
As desculpas são inúmeras: falta tempo, não tem interesse, dor de barriga ou só leio a Bíblia ( fico pensando: se a Bíblia viesse com bibliografia, será que os leitores do Senhor, consultariam outros livros para agregar conhecimentos a sua fé cristã?).
O mais triste é que estou terminando o meu curso de Letras e a maioria dos alunos ( futuros professores da língua portuguesa ou literatura)não gostam de ler e apenas conhecem as obras de Machado de Assis, Manoel Bandeira e outros autores clássicos, porque a leitura dos mesmos cairão nas provas e eles precisam "passar de ano". Fico imaginando: com professores interessados e informados assim, como serão os seus alunos?
Por essa razão fico muito "bravo" quando leitores do Paulo Coelho, Zibia Gaspareto, Sidney Sheldon, Dan Brown, J.K. Rowling e outros "autores pops" são criticados por professores de literatura e estudiosos. Seria maravilhoso que esses leitores estivessem lendo Castaneda, Fernando Pessoa, Sir Arthur Conan Doyle, Richard Barber ou Tolkien; mas no mundo real brasileiro, onde ler livros se torna cada vez mais uma raridade, é sempre bem vindo, qualquer leitura, desde que desperte novos leitores.
Tudo é uma questão de tempo e gosto. O leitor do Caçador de Pipas vai acabar se interessando em conhecer um pouco mais ( e a face real) sobre o povo afegão. A leitura de romances espíritas talvez guie seus leitores para um estudo sobre as obras da teosofia, Bhagavad Gita e outros tantos livros que influenciaram o "celta" francês Hippolyte Léon. Por isso, acredito, cabe aos mais instruídos informar ao leitor de literatura pequena que se houver interesse, há outros tantos autores que ele deveria conhecer, ao invès de afirmar que eles estão lendo lixo literário.
Depois que leu meu livro, minha mãe perguntou se eu tinha mais livros de crônicas para ela ler. Quer melhor final para essa crônica?
MAIO 2008
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