NARCIALDO, O PUXA-SACO!

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Narcialdo cresceu ouvindo o seu pai a falar sobre como nesta vida é necessário puxar o saco! Principalmente, no ambiente de trabalho. Bajular. Que verbo fantástico. E assim, Narcialdo cresceu. Um verdadeiro bajulador!

Na escola falava que a professora de Português era a mais linda do corpo docente da escola. Maça e flores estavam todos os dias em sua mão para entregar-lhe à professora. Não sabiam elas, que ele levava um saco cheio dessa fruta na sua mochila. Quando precisava de pontos para ser aprovado, dava um sorriso e falava sobre as dificuldades que encontrara durante o ano. Entregava uma maçã e esperava ter a compreensão da mestra.

Não que as professoras se corrompiam, mas elas realmente acreditavam no Narcialdo.

Assim, ele foi crescendo metido e astuto. Já na faculdade, usava de palavras bonitas e de roupas alinhadas para impressionar os mestres e colegas. Quando conseguiu seu primeiro estágio, logo fez o seu cartão de visita e distribuía a todos. E, prometia, mundos e imundos. “Te levo para a minha empresa, sou assim com o chefe”. Quantas vezes ele viu o seu nome nos trabalhos escolares, sem ter escrito uma linha qualquer.

Formado e empregado em uma grande empresa, sonhava em ser o diretor da empresa. Agora, sim! Começava uma dura tarefa. Mostrar que era melhor que seu colega de trabalho, o Zé Ninguém, e conquistar a confiança do presidente da empresa. Nunca levou maça e nem as suas roupas eram usadas para impressionar, mas a sua grande estratégia era bajular. Podia ouvir um sonoro “Não” (mesmo quando tivesse razão) e sorrir, dizendo que ele estava certíssimo. Defendia-o nas reuniões e descaradamente ia contra os seus colegas, mesmo, quando estes estavam certos. Disse até que o seu colega Zé Ninguém errou nas operações. E um erro que fez a empresa perder clientes. Sendo que o erro era dele!

O chefe começou a ver Narcialdo com outros olhos. Começaram a almoçar juntos, jantar e até no sítio do chefe o Narcialdo estava. Já era mais um membro da família! Agora, não tinha para ninguém. Narcialdo seria o novo diretor. Não dava nem um “bom dia” mais para o seu leal concorrente e muito menos o olhava, o Zé Ninguém. Não precisava temê-lo mais.

Em uma noite, Narcialdo e o chefe conversavam em um bar e este fez uma proposta indecente ao nosso querido Narcialdo. Em troca, o cargo que ele tanto queria. O seu colega de trabalho, o tal Zé Ninguém, viu os dois entrando em um motel e assustou. Não acreditava no que vira! E no outro dia... Narcialdo era o novo diretor da empresa!

Já em sua sala, Zé Ninguém pediu para falar com ele e Narcialdo aos berros, disse ao telefone que estava muito ocupado. Zé ninguém mandou uma mensagem para o celular de Narcialdo. “ MOTEL GOOD TIME”.

Assustado, Narcialdo pediu que ele entrasse. Zé Ninguém sorriu. Agora sim estavam falando a mesma língua. Disse que tinha as fotos. Jogou. Fotos comprometedoras dele com o chefe no carro. Na entrada do motel e nos bares. Narcialdo desesperado ofereceu-lhe dinheiro, carro, cargo, aumento... Tudo que um Zé Ninguém sonhara! Ele pegou o cheque e rasgou.

- Não sou melhor e nem pior que você, meu caro. Tenho meus defeitos. E não tenho nada haver com a sua vida. Só quero uma coisa de você, Narcialdo.

Narcialdo logo disse que hoje à noite ele estava livre...

- Quero que você me peça desculpas em frente aos meus colegas. E diz a todos que você errou quando disse aquela infame na reunião.

- Só isso?

- Para mim é o suficiente. Meu caráter é a minha vida!

Narcialdo assim fez. Disse a todos da empresa que foi um erro e que Zé Ninguém era inocente. Mas também não revelou o culpado.

No fim do dia, Narcialdo recebia o pedido de demissão de Zé Ninguém. Ele resolveu sair da empresa, mas satisfeito. Lembrou da criação que o pai lhe dera. A importância do caráter.