Já estive mais próxima de lá. (Maria Mal-Amada)
Já estive mais próxima de lá.
Crônica extraída do livro Maria Mal-Amada
de Lorena de Macedo
Já estive mais próxima de tudo. Mais perto da vontade, do querer, da saudade do que ainda não se conhece. Próxima da verdade implícita na vontade louca de estar lá. Eu sinto falta do querer desenfreado, tarado, descabido. Tudo era melhor quando havia mais proximidade.
Já estive bem perto do que queria. Pertinho mesmo! Dava para sentir o sabor da comida, a brisa gelada das primeiras horas do dia, o prazer causado pela visão de construções fascinantes. Eu não perdi nenhum pouquinho do meu interesse, mas estou mais longe do que antes.
Porque perdemos a proximidade do que nos é tão importante? Sentia tudo de uma vez só. A euforia da possibilidade era tão boa quanto à concretização do querer. Já estive mais próxima das pessoas. Lado a lado, mãos dadas, pensamentos iguais... E no crescer de cada um como indivíduo, a distância aumenta mais e mais.
Irmãos já foram mais irmãos. Mais do que apenas visinhos de quarto dentro de uma casa onde ninguém se conhece direito. Já estive em hotéis mais calorosos que uma casa de família da atualidade. Amigos já foram mais irmãos do que os colegas e a fins que hoje encontramos por aí.
Bem perto do café da tarde na casa da minha avó. Das conversas engraçadas com os amigos da escola, da inocência disfarçada de maturidade, dos olhos brilhantes pelo querer maior.
Minha avó já não cozinha mais. Cansou-se de repente. Não está perto do lugar certo há um bom tempo. Quitandas? Só de padaria, e as tardes de café em família vão se transformando em saudosas lembranças.
Perdi o fio da meada. Alguém sabe onde está? Avisos gigantescos são bem-vindos. Pode me acordar no meio da noite se achar o fio... O telefone fica do lado da cama.
Estou com saudades de lá.
Maria