É QUE MORREU O CACHORRINHO DELE

É QUE MORREU O CACHORRINHO DELE

DONATO RAMOS

do livro FOLHAS SOLTAS

Um menino todo lágrimas estava sentado à soleira da minha porta. Quem seria? Nunca o havia visto por aquelas bandas do Estádio do Marcílio Dias de Itajaí. Deveria ter os seus seis ou sete anos. Nada mais do que isso. Como é penoso para gente grande ver uma criança chorar. Cheguei-me bem perto. A gente sente uma vontade de saber, de sentir também o problema das crianças que choram. Uma criança só e chorando. Um quadro triste.

- Onde você mora...?

- Ali...

- Ali, onde?

- Perto da lavadeira.

Bem, já era uma informação. Desisti de saber. Queria, no entanto, desviar a atenção do garoto para outro assunto a fim de que o fator choro fosse esquecido e ele reiniciasse o seu brinquedo de criança. As lágrimas, entretanto, prosseguiam caindo na camisa. Arrisquei a pergunta:

- Por quê você está chorando...?

- Porque morreu o meu cachorrinho.

Então, aquele pequeno menino chorava porque o cachorrinho havia morrido... Como é terno o coração de criança. Quanta gente grande que morre e quanta gente nem sente... Era minha obrigação consolar o garoto com palavras que dessem resultado.

- Ah! Então é por isso? Ora, meu filho... o caso não é para chorar assim!

O garoto olhou-me. Prossegui:

- Todo mundo, um dia, tem que morrer! O meu avô também morreu e eu não estou chorando desse jeito. A gente precisa ser forte, ser homem!

O guri olhou-me, levantou-se, fuzilou-me com um olhar e...

- É, né? Mas o senhor não criou o seu avô desde que ele era um cachorrinho deste tamaínho...!

DONATO RAMOS
Enviado por DONATO RAMOS em 28/05/2008
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