...... EU NO DIVÃ ?.....

Como sempre faço, cheguei mais cêdo do que minha parceira. A técnica em áudio, havia marcado comigo 19:hs. Cheguei 18:hs em ponto. A brisa estava ótima. Havia parado de chover logo cêdo. A biblioteca pública do estado, estava lotada. Nesse périodo, há muita gente em pesquisa e estudos. Estudantes de várias séries. Diversas idades. Uma mistura de raça, que mais parecia um grande coquitel. Alguns bancos externos ainda sobravam. Resolvi ocupar um. Como não apareceu ninguém para dividi-lo, coloquei a mala da filmadora sobre o banco, dobrei meu colete e fiz de travisseiro. Resolvi deitar um pouco.

Olhando para o céu estrelado, passei a ver algumas imagens que haviamos filmado e já colocando a música. Eu qundo penso numa cena, ela já vêm completa. Colocar a música é uma tarefa exclusivamente dela. Mais ela nunca se importou em darmos pitacos. Aliás, na equipe, todos dão seus pitacos. Um aqui, outro alí, o que é sempre bem vindo. (Time que está ganhando não se mexe, já dizia painho que era torcedor do Bahia doente, e meu grande rival nas quatro linhas, sou Vitória até a morte). Me vi num delicioso divã. Imagine. Eu num divã. Quem diria. É muito luxo para um simples mortal.

Quatro paredes pintadas de um azul delicioso de se olhar. Um abajur antigo. Uma estante coberta de bons livros. Uma mesinha num canto. Uma garrafa com água geladinha, geladinha. Um cesto de lixo. Um quadro com vários anjos. Um ventilador com fitas penduradas, girando, girando, girando. Eu acompanhando as fitas de várias cores, larguras e tamanhos.

A voz de meu análista, ou melhor da minha análista era uma délicia. Assim como ela. Tránquila. Passava-me coragem e segurança. Perguntava-me se havia gostado da música. O disc play tocava baixinho. Eu podia ouvi-lo como uma sonora reza. Acalmava-me docimente. Eu sorria com aquela canção que embalou minha juventude. Lembrei-me de quantas vêzes dancei agarradinho com a minha amada.

"Derepente você revelou, minha cor de rosa,

Você pensa que tudo passou, mais você não passa,

Você me abraça e eu sou carinhosa,

Não vaí ser fácil me deixar.

Estou fora de mim, por aí

Com você por dentro.

Vou ao centro do que não se vê,

Mais se lê no vento,

Nesse momento eu sou venenosa,

Você não vaí, me esquecer agora.

Não pense mais, foí a minha intuição,

Nunca se disvenda um coração assim.

Olhe prá mim, sobram cinco palavras,

Um desejo só não basta.

Olhe prá mim,

Sobram cinco palavras,

Um desejo só não basta."

(Simone)

Você tá sonhado meu lindo? acorde. Acorde. Desculpe pelo atraso. Eu trouse os cd's. Vamos ouvir as músicas selecionadas. Beijou-me a testa.

Assustei num pulo. A sala sumíu. Todos os objetos sumiram. Ela sorria na minha frente. Acho que cochilei, desculpe. Ela sorriu mais uma vêz. Colocou o cd e pós o outro fone no meu ouvido. E naquele momento eu já havia escolhido a música para a abertura do curta. Ela gostou da escolha. Disse-me que parecia em tudo com o clíma da cena em questão. Concordei e fomos fazer a edição. O que diga-se de passagem, ficou uma beleza. Todos gostaram. Nós mais ainda.