severina
- Acorda, severina!!! Venha cá, severina!!
- Pobre coitada!!! Criança estranha, essa menina!!
- Venha cá, desmilingüida!!
- Eta, Criança horrenda!!
Assim começa a vida de Severina, criança cuspida pela mãe e nascida nas mãos do pai. Isso, quem diz são as vizinhas, que ficaram lá... Olhando o parto sofrido. Nem ajuda, nem água quente. Só um olhar esbugalhado, para dentro da sala pequena, e, ouvidos aguçados, "pra ver se a Beta não ia gritar''. Pobre coitada... Ficava feio pra ela.
E, assim se deu o dia do nascimento de severina. Nome bonito, criança estranha. Tudo culpa das vizinhas, que não ajudaram em nada. A pobre veio ao mundo sem choro, sem voz.
- Quando fez dois anos de idade, era só olho e barriga. Aos nove, pernas, olho e barriga. Aos quinze, uma tábua!
Isso, quem diz são as vizinhas... Que não ajudaram em nada!!! Fazer o que?! A metade tava esperando.
Um dia, na cerca grande, severina rasgou o vestido. Era o único para os domingos, feriados, dias santos, aniversários e pra visitar a madrinha.
- severina quer crescer.
Isso quem disse foi alguma vizinha esforçada, que lembrou a menina de que, ao visitar a madrinha, a criança crescia um dedinho. Severina ia à casa de Dona Cota, toda a semana. Com a barriga gemendo, o vestido rasgado e a mente vazia.
Se ela cresceu? Um pouquinho, nas primeiras visitas, e muito, pra frente, ao longo da vida.
Na casa da patroa, bem cedo, ela entrou... Trabalho não faltava, salário é que sim.
Com uns trocados comprou um rádio... Vendeu... - Pra música, não tinha dom.
Arrumou namorado, casou direitinho...
- Um filho, dois filho, quatro filho... Coitado!
Isso quem diz é a vizinha do quarto ao lado.
Coitado do moço que trabalha demais. Mal ganha para o sustento, MAS, sustenta sonhos... Sonhos de loteria, de casa própria, de filho na escola... De não ter panela vazia!
O tempo passa. É tudo repetição... Imagina?! ele pede demais... E severina já não está tão sozinha nesse mundo de cão... Tem em sua companhia a joana, a elisa, a catarina, a maria... "a mulher, Meu Deus!".