O Diabo dá Asa às Cobras... Berenice Heringer

Et le J'accuse de Emile Zola vira banheira Jacuzzi em mansão maceió-ense!

Dizem que quando a pessoa perde as estribeiras ela volta às origens e só é capaz de xingar em sua própria língua materna, mesmo que domine outros idiomas. Nos momentos de raiva intensa e revolta por presenciar injustiças, os preconceitos entram em erupção, nossos mais primitivos instintos de discriminação, ojeriza e antipatia tomam conta da cena. Caem as barreiras. Os anteparos sociais que disfarçam a natureza selvagem do homem jazem por terra. Despojados dos vernizes, armados com nossos tacapes da intolerância..

Vendo na TV o tal de Dr. George Sanguinetti, meu sangue ferveu. Veio à tona, em rápida sucessão, o caso PC Farias na década de 90, e a atuação circense desse médico psiquiatra e professor de medicina legal. Tive o maior preconceito contra ele, acheio-o a cara do Fagner (que não tem nada a ver com a história), um nordestino do 2º menor estado brasileiro, que não é perito concursado, nem faz parte de uma equipe de funcionários públicos do judiciário.

Até do nome tive ojeriza. Um são-jorge-guerreiro com um escudo de sangue italiano. Carcamanos, orixás, máfia a serviço de patentes do poderio, do prestígio e da prestidigitação. Ah! Mas ele vai nos fazer muito mal! As pressões arteriais vão subir, haverá taquicardia, ataques de pânico e fúria e novamente o "espírito-de-porco" vai comandar as hordas. O cara tem sotaque alagoano e, ao que tudo indica, é um crápula com diploma. A natureza em decantação, os resíduos oscilam, vêm à tona, turvam a vista de alguns ou de todos e o desencadeamento não tem nada a ver com origem, raça, posição socio/geográfica, língua, sexo. Se fosse o primeiro ministro britânico a gente diria que é um Gordo Marron, o tal de Gordon Brown, ou um georgebusha. A revolta é má conselheira. O mal a serviço do mal, os poderosos demagogos praticando fornicação.

O brasileiro é sempre tachado de omisso, tem memória fraca e vocação para "bonzinho", é da turma do deixa-estar-para-ver-como-fica, sempre à espera da justiça divina que tarda mas não falta. No caso PC Farias, a viúva foi tão vilipendiada que desenvolveu um câncer de mama letal e fulminante. O casal de adolescentes foi despachado para um colégio suiço. Obviamente que o tutor nomedo foi Augusto Farias, deputado federal, gestor de toda a herança da família que ele fez desaparecer. E o melhor de tudo: executor testamenteiro de todos os bens, a verdadeira sopa no mel. Tudo foi abafado. Os assassinos não foram apontados, graças às manobras maquiavélicas do doutor sanguessuga.

E todos continuaram em suas mansões alagoanas mais incrementadas do que nunca, inclusive esse sanguinetti sanguinolento, que não põe a mão na massa, naturalmente, só levanta teorias, desenrola a papelada e cumpre seu papelão de peripatético parecista de laudos. É isso mesmo o nome que se dá ao perito em parecer? Todo mundo nauseado e não há mais nenhum resquício de respeito à pequena vítima das atrocidades desses vampiros e dráculas.

A escuridão contra a Luz. O doutor proeza, o insuplantável, vai misturar as cartas no seu jogo de azar cujo lucro é para si próprio, quer todas as luzes dos holofotes sobre si mesmo nesse palco de poderio e vaidades. Uma cortina, um véu da iniquidade cai sobre a Verdade. E é claro que os assassinos não vão aparecer. A Família Oliveira vai continuar o processo infindável do luto e chorará para sempre a sua amada e inocente menina.

Desvendam-se os segredos mas esvaziam-se as evidências. A sociedade é esmagada sob o pesado Manto de Noé que os salteadores estendem sobre todos nós, uns bichos revoltados e anestesiados nessa grande Arca...

Vila Velha, 27 de maio de 2008.

Berenice Heringer
Enviado por Berenice Heringer em 28/05/2008
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