...EU SEI QUE SEMPRE VOU EMBORA, MAS NÃO HÁ VIDA LÁ FORA...

Um dia eu tive de ir embora, por não ter independência o suficiente para permanecer ali, no meio daquela multidão sem rosto, olhando para os céus em busca do topo dos prédios em que nunca morei, cantando baixinho para que somente eu escutasse minha voz morrer entre todas aquelas buzinas e motores ligados, que despejavam poluição naquele céu que apesar de cinza tinha lá sua beleza. Eu acompanho a vida daquela cidade mesmo a quilômetros de distãncia dali, e vejo que diariamente pintam seu solo de vermelho, e mancham sua história com ações que aquele povo não merece. Quem fica se encanta tanto quanto tem medo. Quem foi se desespera por não saber o que significa a vida distante dali. Eu volto um dia para abraçar a garoa, e andar pelas ruas movimentadas da cidade que não para. Eu preciso mergulhar nas profundezas da terra em busca de sons e imagens poéticas. É um centro urbano e ele é rico em fotografias. Os pássaros que voam longe daqui são infinitamente mais bonitos que os papéis da sujeira que voam sobre todos que se arriscam pelas calçadas, mas esse não é o tipo de beleza que preciso agora. Aqui estou de passagem mais uma vez, sei que um dia vou voltar, para me atirar no universo da cultura que seu submundo esconde, para misturar minha arte nos espaços em que foram inspiradas, para mostrar que é possível sim, fazer carinho nas paredes de concreto desta que talvez seja a cidade mais cosmopolita do mundo atualmente. Que a cidade ainda tenha um pouquinho de espaço disponível para receber minha alegria quando ali me instalar de corpo e alma outra vez...

"...a hora do encontro

é também despedida.

A plataforma dessa estação

é a vida desse meu lugar..." MARIA RITA