Do Lúdico ao Obsceno
Cá estou eu a pensar! Por instantes dei uma fugidinha de mim e fui ao encontro da minha doce infância. Fui rever lugares, amigos e amigas, inocente infância de felicidades!
Pois bem, lembrei-me com muitas saudades das brincadeiras de rua, embaixo da luz do poste ou mesmo na claridade da lua. Jogar bola, brincar de porta bandeira, esconde – esconde...
Entrei no casarão da rua de baixo, lá era onde a gente fazia teatro.
Ah! E a brincadeira da gata parida, quem se lembra?
Como o tempo passou depressa! De meninos tornamo-nos pré, depois adolescentes. Vieram os estudos, trabalhos, namoros, casamentos, uns felizes, outros nem tanto! Outros até acabaram, enfim, cada um tomou seu rumo. A vida colocou cada um com seu destino.
Pois é, a inocência passou, ganhamos responsabilidades e preocupações, ficou tão somente as saudades dos meninos e meninas de minha vida!
Lembra que falei da gata parida? Quero aqui fazer um paralelo da minha infância e a que vivencio hoje aos cinqüenta e poucos anos.
A brincadeira era assim: num banco comprido assentavam-se os meninos, quatro, cinco ou seis, sei lá! Assentavam todos juntos. Aí um outro menino tinha também que arrumar um lugar naquele mesmo espaço. Então começava a disputa para ver quem conseguia se manter no lugar. Era aquele empurra - empurra, espreme - espreme, até que um caísse do banco. Esse era o perdedor: “foi parido”.Como castigo ganhava cascudos e muita gozação!
Bom, aqui é que começo o diálogo com os meus botões. Diálogo ou monólogo? Isso não tem importância, naquele banco havia sim exclusão, era uma proporção de cinco para um em média.
Hoje a realidade é dura, quantos são os excluídos? Os sem escola, sem trabalho, sem saúde, sem transporte, sem teto, sem terra, sem, sem, sem...
Não dá para enumerar. O que era lúdico agora é obsceno!
Recordo das dificuldades que vivíamos, das angústias...
A pobreza existia sim, mas em menor proporção, sabe por que?
Ainda havia pessoas solidárias, pessoas generosas, enfim, pessoas decentes.
Estão todos os dias nos noticiários os desmandos desse país. A cada dia temos mais miséria, mais fome, um modelo excludente que alimenta a ganância de uma elite dominadora!
E essa Gata Pátria parida sem o menor escrúpulo, continua a abandonar suas crias!