Ao Despertar
Na cruel tristeza nostálgica da madrugada, em que amantes adormecem após seqüenciais horas de amor, repentinamente despertei. Estava suado, insatisfeito. Busquei um rascunho e pus-me a escrever. A noite não silenciava, como era do seu natural, do seu feitio, havia ruídos. Este escurecer não era dos poetas. Abri a janela do quarto calmamente, cuidadoso para que não houvessem ruídos. Respirei fundo. Senti o aroma gelado da vento, alguém chorava na rua e, ninguém sentia a mínima piedade, rezei por ele. Também rezei por mim.
Estava em meus joviais vinte um anos, recém formado e pós graduando pela universidade. Tudo acontecera tão rápido, fulminante, avassalador. Pensei no tempo, em sua rapidez. Alguns poetas já disseram que o tempo não pára. Tinham razão. Já havia saído por aí, conhecer o mundo, baldeado por algumas cidades, dormido em hotéis de péssima qualidade e vivendo sem um destino, sem nenhuma razão, ao menos pra mim. São nesses momentos, de total solidão, que passamos a nos conhecer, que conversamos com nós mesmos, com nosso mais íntimo interior. Venerava a solidão, não gostava era da tristeza, mas sabia conviver com ela e com isso a aproveitava.
Triste poeta.