Soltar balões? É tempo deles
Ontem, à boquinha da noite, enquanto ouvia um velho disco do Orlando Silva, buscava, com ostensiva sofreguidão, um tema para minha crônica diária.
Abria o Word, rabiscava um texto,e, em seguida, deletava-o, impiedosamente. Percebia que não era bem o que eu queria.
Interessante! Quando eu fumava - e foram trinta e tantos anos mergulhado no vício - tal não acontecia.
Depois da primeira tragada, eis que, como diz o cronista Ruy Guerra, os assuntos "jorravam em borbotões".
Terminei me convencendo - já contei esta história acho que neste site - de que não estava na fumaça do meu cigarro a minha única fonte de inspiração.
E num dia qualquer do mês de outubro, nem sei mais de que ano, fumei o meu último Hollywood.
Longe do tabaco estou há mais de vinte anos.
Portanto, de câncer no pulmão não devo morrer.
Contudo, continuo achando que só um desses orgasmos fartos e generosos pode superar a satisfação que nasce de uma boa tragadinha.
Desculpem-me a (grosseira?) comparação.
Ouvindo o "cantor das multidões", não me dava conta de que Ela acompanhava, à distância e em silêncio, toda aquela minha agonia.
Agonia? Sim, meu caro leitor, escrever crônicas pode parecer fácil, mas não é. Às vezes, antes do ponto final, o pobre escriba é atingido por uma inesperada sudorese!
Lá pras tantas - certamente não suportando ver-me tão angustiado -, Ela avisou-me, com extrema delicadeza, que o tempo era de Luiz Gonzaga e não de Orlando Silva.
Me veio, imediatamente, à lembrança estes versos do Gonzaga: "Olha pro céu, meu amor,/ Olha como ele está lindo!/ Olha praquele balão multicor/ Como no céu vai sumindo."
Decidi, então, escrever sobre os balões.
E Ela: "Mais uma crônica sobre balões?"
Nem liguei. Abri o Word, e mandei brasa.
Os balões! Ah, os balões!
Tão ingênuos...
Tão bonitos...
Tão doces...
Mas perigosos; destruidores...
Assistia eu um desses jornais da TV, e vi um Boeing, acho que da Gol, pousando em Guarulhos entre dois enormes balões. Fiquei arrepiado. De repente me vi rezando uma Ave-Maria...
Soltar balões é proibido. E por óbvias e justas razões.
Recordá-los, porém, numa modesta crônica, que mal faz? Nenhum. Queiram ou não, os balões juninos fizeram histórias; e muitas recheadas de terno romantismo.
Ainda hoje eles são vistos e admirados como alegres mensageiros do espaço.
Permitam-me, porém, dividir os balões em duas gerações: os balões matutos e os balões urbanos. Idiotice? não.
Os balões urbanos são gigantes, atrevidos, agressivos, devastadores.
Os balões matutos, são aqueles que vi deslizando, serenos, nas noites juninas do sertão do Ceará, lá pela década de 1940.
Eram menores e frágeis. Quando caíam, provocavam pequenos incêndios no quintal do vizinho ou na roça de capim do compadre amigo. Tinham pouca autonomia de voo.
Dos compositores, cronistas e poetas da época eles mereceram prosas, canções e versos inesquecíveis.
Lembro-me, agora, que o nosso Lamartine Babo, numa marchinha inocente dos anos 1940, garantiu que o balão "é um sonho de papel/ a girar na imensidão"
O saudoso cronista pernambucano Antônio Maria escreveu: "Ah, eu gostaria tanto que os meus olhos ainda se encantassem, acompanhando o vôo dos balões até a altura em que eles se transformam em estrelas!"
Os balões ainda me encantam os olhos...
Se a proibição de soltá-los deve ser mantida? Deve.
Mas me deixem confessar uma coisa: sem o céu "pintadinho de balões", as noites de São João ficaram mais escuras; mais feias; menos alegres...
Ontem, à boquinha da noite, enquanto ouvia um velho disco do Orlando Silva, buscava, com ostensiva sofreguidão, um tema para minha crônica diária.
Abria o Word, rabiscava um texto,e, em seguida, deletava-o, impiedosamente. Percebia que não era bem o que eu queria.
Interessante! Quando eu fumava - e foram trinta e tantos anos mergulhado no vício - tal não acontecia.
Depois da primeira tragada, eis que, como diz o cronista Ruy Guerra, os assuntos "jorravam em borbotões".
Terminei me convencendo - já contei esta história acho que neste site - de que não estava na fumaça do meu cigarro a minha única fonte de inspiração.
E num dia qualquer do mês de outubro, nem sei mais de que ano, fumei o meu último Hollywood.
Longe do tabaco estou há mais de vinte anos.
Portanto, de câncer no pulmão não devo morrer.
Contudo, continuo achando que só um desses orgasmos fartos e generosos pode superar a satisfação que nasce de uma boa tragadinha.
Desculpem-me a (grosseira?) comparação.
Ouvindo o "cantor das multidões", não me dava conta de que Ela acompanhava, à distância e em silêncio, toda aquela minha agonia.
Agonia? Sim, meu caro leitor, escrever crônicas pode parecer fácil, mas não é. Às vezes, antes do ponto final, o pobre escriba é atingido por uma inesperada sudorese!
Lá pras tantas - certamente não suportando ver-me tão angustiado -, Ela avisou-me, com extrema delicadeza, que o tempo era de Luiz Gonzaga e não de Orlando Silva.
Me veio, imediatamente, à lembrança estes versos do Gonzaga: "Olha pro céu, meu amor,/ Olha como ele está lindo!/ Olha praquele balão multicor/ Como no céu vai sumindo."
Decidi, então, escrever sobre os balões.
E Ela: "Mais uma crônica sobre balões?"
Nem liguei. Abri o Word, e mandei brasa.
Os balões! Ah, os balões!
Tão ingênuos...
Tão bonitos...
Tão doces...
Mas perigosos; destruidores...
Assistia eu um desses jornais da TV, e vi um Boeing, acho que da Gol, pousando em Guarulhos entre dois enormes balões. Fiquei arrepiado. De repente me vi rezando uma Ave-Maria...
Soltar balões é proibido. E por óbvias e justas razões.
Recordá-los, porém, numa modesta crônica, que mal faz? Nenhum. Queiram ou não, os balões juninos fizeram histórias; e muitas recheadas de terno romantismo.
Ainda hoje eles são vistos e admirados como alegres mensageiros do espaço.
Permitam-me, porém, dividir os balões em duas gerações: os balões matutos e os balões urbanos. Idiotice? não.
Os balões urbanos são gigantes, atrevidos, agressivos, devastadores.
Os balões matutos, são aqueles que vi deslizando, serenos, nas noites juninas do sertão do Ceará, lá pela década de 1940.
Eram menores e frágeis. Quando caíam, provocavam pequenos incêndios no quintal do vizinho ou na roça de capim do compadre amigo. Tinham pouca autonomia de voo.
Dos compositores, cronistas e poetas da época eles mereceram prosas, canções e versos inesquecíveis.
Lembro-me, agora, que o nosso Lamartine Babo, numa marchinha inocente dos anos 1940, garantiu que o balão "é um sonho de papel/ a girar na imensidão"
O saudoso cronista pernambucano Antônio Maria escreveu: "Ah, eu gostaria tanto que os meus olhos ainda se encantassem, acompanhando o vôo dos balões até a altura em que eles se transformam em estrelas!"
Os balões ainda me encantam os olhos...
Se a proibição de soltá-los deve ser mantida? Deve.
Mas me deixem confessar uma coisa: sem o céu "pintadinho de balões", as noites de São João ficaram mais escuras; mais feias; menos alegres...