Indio, eu

Na reportagem dos jornais, o gênero era quase policial. O que eles querem é criar polêmica de nós, e que assim o façam, porque assim ao menos seremos lembrados, ainda que por únicas vezes.

Nossa imagem agora é calcada na estranheza de um povo descivilizado, e eu me pergunto até que ponto a "civilizaçao" persiste no mundo comum, esse cheio de positivismo besta que fingem os homens no convívio social. O mesmo cheio de deveres e condutas padronizadas, reguladas e observadas por seus semelhantes, este que cria e descria e define o liame do que é certo ou não.

Os homens "civilizados" vez em quando resolvem fingir que se importam conosco, chegam em bando, cheios de vestes e títulos que nem cabem em nosso vocabulário, invadindo como querem a nossa individualidade. E nós, os rebeldes, acatamos tantas vezes os conselhos divinos que nos trazem, e perdemos, sempre. Perdemos espaço, dignidade, crenças e uma parte do nosso povo; perdemos identidade e a voz. Estamos cansados de derrotas e silêncio.

Então o jornal noticiou a revolta de uma tribo ao atacar um homem comum. Engenheiro, importante, e protegido por um monstro bem maior que todos nós, e a civilização, chocada, clama por justiça. Mas ninguém sabe ao certo onde mora essa razão. Vocês, do mundo globalizado e das multinacionais, não sabem sequer um pedaço de nós. Destróem nossa terra, ignoram nossa existência, acabam com nossos frutos e nos expulsam do nosso habitat, e ainda não satisfeitos, mascaram o medo que o homem branco deve sentir de nós.

O descaso com nosso povo é a nossa revolta, e assim continuará a ser até que o mundo resolva nos ouvir. O que queremos é tão menor que tudo o que nos têm tirado: respeito. Nada mais. Pois temos orgulho das nossas raízes, e nada nem ninguém tem o direito de nos tirar o pouco que nos restou. Haverá revolta enquanto persistir essa insistência besta do homem capitalista, que passará vidas tentando consertar os erros que não pára de gerar.

Ie
Enviado por Ie em 26/05/2008
Código do texto: T1006261