Dom Franchesco de La Mancha contra o Monstro da TV
Domingo à tarde, depois do parque, depois do jornal e da revista, deitei-me no sofá e armado com o controle remoto, comecei a zapear pelos canais da TV aberta. Não, não posso bancar a TV a cabo e sou refém da programação de qualidade duvidosa dominical, mas como sou recém chegado aqui na Terrinha, tudo pra mim ainda é novidade e lá fui sendo tragado pelos programas sensacionalistas e shows mil que prendia tanta gente a televisão junto comigo.
Vamos, joguem as pedras, mas não consegui desligar e meia hora de bobeira em frente a TV virou quatro horas, onde senti que cada célula do meu corpo estava conectada a televisão.
Sentia-me cansado, exausto, como se estivesse sendo sugado pelas imagens na televisão, mas não conseguia reagir.
Foi quando meus olhos secos chamaram a atenção do bom senso e do cérebro e consegui desesperadamente segurar o controle e apertar a tecla, desligando a TV e acabando com o meu suplicio.
Respirei fundo e fechei os olhos, mas a minha tela mental estava repleta de imagens e sons ecoavam pelo meus ouvidos lembrando as vozes dos programas que já tinha assistido. Era como se eu não conseguisse ouvir os meus próprios pensamentos e o pior, a mente lembrava que outro programa estava prestes a começar, enquanto eu bancava o resistente.
Não!!!! – gritei com todas as minhas forcas e fui pro quarto, colocando uma música para relaxar, mas o Obsessor das Casas Bahia, os Faustões e Gugus brincavam de Pânico na minha telinha mental.
- Como fugir quando a prisão é mental? – perguntei aos santos.
- Será que é assim no Umbral? – indaquei aos Orixás.
– Quero sair daqui!!! – gritei - Deixa eu ler um livro. Deixa eu cantar. Deixa eu fazer qualquer coisa que possa me libertar desse ataque psíquico.
Fui ai que lembrei de uma técnica de limpeza mental que aprendi num curso e tentei relaxar. Com muito esforço tentei zapear a programação da minha tela mental para uma programação mais sutil que me permitisse voltar a ser eu, que me permitisse voltar a pensar.
Comecei a visualizar uma cachoeira. Tentei sentir cada gota caindo, mas os assediadores voltaram e para eliminá-los de vez, visualizei as Cataratas do Iguaçu a minha frente e vi todos os Faustões e Gugus sendo levados pela correnteza. Ainda tive tempo de ouvir o Faustão gritando: " Ô louco, meu! "
Continuei vendo as cataratas e comecei a sentir que minha tela mental foi ficando limpinha e multicolorida, sem imagens, sem vozes, sem perturbação.
“Que alivio – pensei comigo – Deixa eu ficar agora aqui quietinho, ouvindo essa mùsica só por uns minutinhos.” – e fiquei ali curtindo a melodia, o silêncio da mente, a quietude da tela mental bem levinha.
Meia hora virou infinito e quando minha esposa chegou, ouvi a TV sendo ligada.
- Fran, começou o Fantástico! – ela disse.
- Obrigado! – gritei lá do quarto – Tô ocupado!
E estava mesmo. Fiquei ali meditando, viajando na minha telinha por um longo tempo até que dormi.
Consegui passar o resto da semana sem televisão e fui trocando a programação pela leitura de um livro e ignorando a TV que na sala a minha espera, assediava e convidava : Liga, vai? Só um pouquinho, vai?
Será que da pra viver sem a televisão? Será que vou convencer minha esposa a trocar a televisão por um jarro de flores de plástico? Agora entendo a minha vó, quando ela fala, que na epóca do rádio a vida era bem melhor.
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