Um novo amanhecer

Não há nada mais romântico do que ver o pôr do sol ao lado da pessoa amada. A luz do pôr do sol é como uma grande vela acessa que embeleza um jantar a dois. Quando acompanhados (ou mesmo sozinhos) vemos o sol ir-se embora, então nosso coração se enche de saudades, é o descansar dos cantos dos pássaros, é o fechar das plantas ... É quando ansiosos esperamos pelo outro dia. Entretanto, melhor do que o fim de mais um dia, é o desejo do nascer do outro. Por isso resolvi escrever sobre o amanhecer, pois como diz o salmista “O choro pode durar uma noite, mas a alegria vem ao amanhecer” (Salmos 30:5). Porque o choro é simbolizado pela noite? Penso que na noite há a saudade, há a solidão, ao menos em símbolo, mas o amanhecer nos traz esperanças de que o futuro pode chegar, e com isso a possibilidade de uma nova vida.

Amanhecer é nascer novamente, cada manhã é um novo natal, por isso há a alegria. Como disse Leonardo Boff “alegremo-nos, não pode haver tristeza onde nasce a vida”. Enquanto o pôr do sol traz saudades, o nascer do sol alimenta o coração pela realização. É como se a ida do sol fosse a partida do nosso amor, e o nascer do sol o seu retorno.

Adoro o canto do Gonzaquinha na música “O que é, o que é ?”, quando no refrão é cantado:

“Viver!

E não ter a vergonha

De ser feliz

Cantar e cantar e cantar

A beleza de ser

Um eterno aprendiz...”

O que é ser aprendiz? É o novo amanhecer de cada um. Cada dia é um novo dia para se aprender, eis a beleza de “ser um eterno aprendiz”. A cada nascer de um novo dia, um novo eu e um novo você. Por essa razão o salmista disse que mesmo que o ontem fora de lágrimas, o amanhã será de alegria, como diz Gonzaguinha :

“Eu sei

Que a vida devia ser

Bem melhor e será

Mas isso não impede

Que eu repita

É bonita...”

Cada desabrochar de um novo dia é uma chance de que a vida é e/ou será bem melhor, “vale a pena viver nem que seja para dizer que não vale a pena (Mário Quintana), bom seria se a cada amanhecer fôssemos novos seres, mas acordamos com um novo sol sendo as velhas pessoas, ausentes e distantes com as marcas do pôr do sol passado.

Que o pôr do sol leve consigo nosso velho eu, e o novo amanhecer traga consigo nosso novo homem. Alegrei minha alma ao ler o poema da Adélia Prado chamado “Impressionista”, quando a mesma poetizou magistralmente:

“Uma ocasião,

meu pai pintou a casa toda

de alaranjado brilhante.

Por muito tempo moramos numa casa,

como ele mesmo dizia,

constantemente amanhecendo.”

Eis o lar e a vida tomado pela beleza e pela alegria, um lugar onde todos os dias acontece um novo dia ...

Wagner Martins
Enviado por Wagner Martins em 25/05/2008
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