ERVA DA BOA

Quando, no início dos anos 80 fomos morar para a Ilha do Marajó, numa pequena cidade chamada Ponta de Pedras, vindos diretamente da terra de nossos pais. Depois de uns tempos a saudade começou a bater.

Quando olhava as pessoas em baixo das mangueiras conversando, sempre me parecia que faltava uma cuia de chimarrão rodando, como o fazem no interior de Santa Catarina ou no Rio Grande do Sul.

Contudo, os ilhéus nada conheciam de chimarrão. Uma vez, recebendo uma visita de um neo amigo, gerente do escritório da Companhia de Luz CELPA, notei que ele me olhava com cada vez mais curiosidade depois que dava uma golada de chimarrão. Finalmente ele não se conteve e falou:

- O que mais me admira é que você bebe e bebe isso ai e não fica porre.

Depois expliquei que chimarrão não era alcoólico, apenas era quente. Ofereci, mas ele recusou.

A comunicação era muito difícil naquela época. Os supermercados de Belém não comercializavam erva mate. Na ilha então, nem falar. Assim, meus amigos de Santa Catarina enviavam pelo correio. Um dia, Manoel, o agente do correio passou por mim na sua bicicleta e virou a cara pro outro lado. Achei estranho, ele que sempre se mostrava cordial e prestativo agir desta maneira. À tarde eu soube o motivo. Chegara um pacote de erva mate pelo correio e estourara na viagem. O aroma da planta defumada e socada era muito forte. Embora me conhecesse, Manoel achou seu dever “denunciar” a mercadoria. Como ele sabia que o Padre da cidadezinha era meu conterrâneo e amigo, foi mostrar o produto para o padre:

- Olha aqui, seu padre. Chegou esse negócio aqui pro nosso amigo e eu não sei não. Gostaria que o senhor visse pra mim.

O padre aproximou o pacote ao nariz e falou:

- Isso ai é erva!

- É mesmo, seu padre? – falou Manoel assustado.

- E, pelo cheiro, é da boa mesmo.

- Seu padre!!!!!!!!

Luiz Lauschner
Enviado por Luiz Lauschner em 25/05/2008
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