A DRAG QUEEN E O PASTOR
Parada Gay, São Paulo
Milhares de pessoas saem às ruas para comemorar e homenagear o dia do orgulho gay. Estão todos por lá: Gays, Lésbicas, Transformistas, Transexuais, Bissexuais e também muitos casais heteros e famílias se espremendo em meio à massa que percorre as ruas de São Paulo.
As bandeiras da liberdade sexual e do amor sem restrições paira no ar, enquanto os pais tentam explicar aos filhos que os dois rapazes se beijando estão apenas expressando o quanto se amam e que a moça vestido de moço e o moço vestido de moça se vestem assim porque por dentro eles são mesmo assim.
Numa esquina da Consolação com a Paulista, um pastor reza usando a bíblia como berrante, pedindo perdão por aqueles pobres pecadores que transformavam São Paulo em Sadoma e Gamorra. Em seus olhos, a nostalgia de cenas de dias anteriores, onde as mesmas ruas foram ocupadas pelos milhares de soldados do Exército de Cristo. “Em um dia lavamos, Senhor; e no outro dia, eles sujam tudo. Perdoe-os Jesus, eles não sabem o que fazem.” Diz o pastor que continua armado com seus salmos e sua religião.
Uma Drag Queen que passa pelo pastor manda beijinho, mas o pastor responde com sermão e brada aos céus para que o Senhor cure aquele pobre homem doente. A Drag Queen continua a provocar o pastor e junta com outras transformistas e simpatizantes começam a cantar: “It’s raining men! Alleluia! Its raining men, Alleluia!”.
O Pastor responde com canções evangélicas e a luta continua por algum tempo, até que o combate é interrompido pelo carro de som que junto com a multidão leva a Drag Queen e seus amigos embora, deixando o Pastor que se sentindo vencedor, deixa a parada e volta pra sua igreja, pra casa, pra sua família.
Fim da Noite I:
A Drag Queen desaba na cama em meio às penas e lantejoulas. Ao lado da cama, a bíblia está aberta e em suas páginas, vê-se salmos marcados com tinta de caneta. O cansaço não a deixou fazer sua oração de todas as noites.
Fim de Noite II:
O Pastor finalmente chega em sua casa, depois de passar na igreja e contar a todos, a difícil batalha do dia. Ele beija sua mulher e seus filhos que já estão dormindo e antes de deitar para descansar, volta a orar; pedindo perdão, mas dessa vez o pedido é para si mesmo, pois andou sentindo de novo a influência do demônio ao passar pelo novo porteiro do prédio, um rapaz simpático e atlético de 22 anos. “Senhor, por favor, perdoe-me!” ora o Pastor com fervor, esperando mesmo que o desejo que invadiu seu corpo de novo seja apenas influência do capeta para afastá-lo da sua luta contra o mal.
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