Meus textos

Costuro meus textos com linhas literárias frescas, vezes ousadas até, mas cheio de vontade de melodiá-los. Gosto de dizer o que penso sobre as coisas que vejo e do depreendimento que tiro de toda essa observação que faço. Costumo desviar-me das ciladas semânticas e ir direto ao assunto, usando, vezes tantas, exemplos para ajudar na condução e tessitura dos mesmos. É como se eu me preocupasse demais com suas pernas, ou até onde elas poderiam levá-los.

Minhas asas chegam-me como presentes do conhecimento de mundo achado nas muitas leituras diárias e no coloquialismo áulico que a própria vida me oferece.

São tantas as coisas que me impressionam e me convidam a escrever, que sobra-me tinta na vontade de fazê-los e eles fluem semelhante a quando queremos agradecer por um milagre recebido e procuramos as palavras em uma oração. Graças a Deus, até hoje, essa fonte tem se mostrado inesgotável e fiel às minhas mãos quando o meu olhar se debruça sobre o papel branco.

Alguns deles saem bem mais íntimos de mim do que outros, uns tanto arredios, como se inquilinassem outras mãos, antes de chegarem-se a mim. É-me exigida noutros tempos a imparcialidade e eles saem mais enxutos, objetivos, com sentido e direção mais certeiros.

E sobre os sonhos? A torneira se afrouxa, e frases inteiras pulam dos olhos, vindas do coração após o espírito convencer-se de que elas devem mesmo surgir.

Não gosto de escrever registrando violências, qualquer de suas formas. É como se me embotasse a vontade de fazê-lo, alguma verdade que, machucando-me, tivesse que arrancar de minhas mãos a permissão para se assentar no texto.

E como um vulcão em franca erupção, vou jogando as lavas cheias de palavras polidas, frases perfumadas, períodos cheios de pernas compridas. A coisa vai caminhando com a pressa que desejar, uma outra alma que se apossa do meu corpo, nas horas em que escrevo – doces horas de alívio e que chegam até a ser hipnóticas.

E quando findo um texto e o releio, acho as pisadas em falso que dou, buscando as trilhas dentro de trilhas outras, no andar de sua confecção. Desvirgulo ali, reticencio acolá e por fim sai o ponto final e batizo-o entregando aos olhos atentos dos leitores, razão maior de tudo o que escrevo.

Não escapo incólume de nada do que escrevo. Fico refém de algumas coisas que descrevo. Meus pontos de vista nem sempre agradam a todos e às vezes põem-me no lugar de Pilatos, noutras como Barrabás e em tantas como o próprio Judas. Mas encaro tudo isso de uma forma edênica, enquanto escritor: são os ossos do ofício!

A execração pública é o que não é desejado por nenhum escritor. Os desentendimentos que vários fazem, em leituras às vezes destorcem o que realmente eu queria dizer através deles. Fazer o quê? Faz parte!

E, surdinando os pequenos e médios dissabores, entrego-me no dia seguinte a vontades novas, motivos outros que eclodem do meu interesse sempre buscador e a cada dia renasço como certa Fênix que, apaixonada pela vida, desabrocha com todo o pôr-do-sol e descansa nos luares absínticos do mesmo céu idolatrado que meu coração percebe ser verdadeiro na poesia do meu cotidiano.

Escrever é o maior compromisso social que minha alma cidadã empresta à minha gratidão e dá de uma vez por todas aos olhos e ao coração dos meus leitores.