"Nunca se sabe por onde a lebre vai saltar"

Comprando gato por lebre e matando dois coelhos com uma só cajadada...O pessoal se esquece de que lebre é coelho e vive comendo churrasquinho de gato. A propaganda faz a festa e para os vivaldinos a concessionária dá mil minutos para falar de graça. Precisamos da graça, não dos minutos. O silêncio é de ouro. Todo mundo está matraqueando e dando pista para os bandidos. Poluição sonora, auditiva e cerebral. Neurônios enrolados em fios óticos subterrâneos e mesopotâmicos. Potamo é rio e meso é meio. Os ditos rios são o Tigre e o Eufrates. Porque o Tibre fica na Itália. E tem tal nome por causa de Tibério, um imperador.

As drágeas róseas made in Holland desbancaram as tulipas multicores, vão atuar e estourar nos bulbos raquidianos de curiosos e falsos inocentes do leblon, in folies rave noir en soirée.

E os selinhos de ácido lisérgico são picotados e psicoticamente dispersos nas papilas sublinguais heterossensuais. Carésimas e carismáticas liturgias nos aras de dioniso & baco. O prazer sensorial a todo custo, ao maior preço, apressadamente, acelerando os celenterados. Doa a quem doar, estouram-se os tímpanos dos mais bobos e sensidebilitados.

A moça guia quilômetros na contramão para fugir do pedágio e o peruano acerta dois tiros na ex mulher que fertilizou alguns óvulos seus (dela) com espermatozóides-extralar, já que o antigo interrompera o fluxo próprio por intervencionismo do cirurgião. "Meu esperma não fertiliza mais, mas o teu útero, ó fêmea, me pertence e não será invadido por etês e ovinis."

Esse é o canto patético do galo que caiu do poleiro, foi alijado do antigo galinheiro. Essas comédias suburbanas são trágicas e requerem muito cenário e mis-en-scène especial: equipes médicas, socorristas, ambulâncias, resgate, corpo de bombeiros, escadas magirus, radiopatrulha, helicópteros, cinegrafistas, repórteres, juris, juízes, juizados, ressuscita-dores.

Primeiro, mostram-se as belezas. Depois, escondem-se as feiúras. Com u'a mão na frente e a outra atrás, a cara da vergonha se escancara e fica-se sustentando a mentira em meio à dor...Os laços do ciúme, do ódio e da possessividade são indestrutíveis.

"O ajuizado, o sensato, reage a toda espécie de fascinação, lentamente, com aquela lentidão que lhe ensinaram uma longa prudência e uma soberba volúpia. Como discerne, como aceita, como confia, ele também honra. E sabe sobretudo olvidar". Essas palavras sábias são de FWN, o gênio que as sentiu e registrou em 1888, na obra Ecce Homo.

Pergunto agora: o que é desse ome de agora, que nem é o detergente omo que dá o branco bilhante, mas esse sem agá, o nemo que todos correm atrás, nem sabendo o que fazer se por acaso derem de cara com tal criatura? A vergonha está na alma. As melhores cabeças não são as coroadas, necessariamente. Edgar Allan Poe fala n'O Castelo do Homem sem Alma, um conto de terror da lavra de um mestre da literatura mundial.

Hoje os caras acham que badernar e esfaquear é romantismo ou heroísmo. Até os índios estão se armando de facões. E nenhum deles se chama Armando Falcão. Mas estão por aí nas Pará-das, agenciados por agentes de pastorais e padres de missões estranhas e facções estrangeiras, sapateando, adernando e sangrando funcionários públicos. O sacerdote entrou e foi filmado na loja de ferragens. O advogado afirmou que seu cliente (o tal agente) tem o direito de comprar facões em nome da liga das mulheres trabalhadoras rurais paraenses e que o levante indígena e as facãozadas não têm nenhum nexo causal com a loja de ferragens, as armas e as mulheres. Este caso é como aquela piada do português: "eu não me chamo Manoel, não sou casado e nem moro em Niterói. O quê estou fazendo aqui?"

Esta é a minha presente posição situacional, nestas maldigitadas...

Vila Velha, 22/maio/2008.

Berenice Heringer
Enviado por Berenice Heringer em 24/05/2008
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