'SUGAR BLUES'

A clandestinidade é o espaço da liberdade.

A mente indisciplinada é um desastre. "A esperança no coração dos homens sobrevive, mesmo em magras pastagens". (Robert A. Johnson - in WE)

Este livro foi a bíblia dos naturalistas nos anos 70/80. O autor americano, não me lembro do nome, era apocalíptico, um evangelista joãofanático. Ele colocava o açúcar na prateleira das drogas mais anestesiantes e broxantes, o que chamamos hoje de imunodepressoras. Um indutor a um estado fisiológico depressivo, "para baixo". A cada era seu vício dominante...

O sugar é o nosso açúcar descoberto e manufaturado aqui nesses trópicos exuberantes das canas javas, caianas, salobras, as mesmas das branquinhas embriagadoras, rons bacardis, jamai-canas, e agora o etanol. No te quieras olvidarme, jamais!

O blues é uma instituição americana, surgiu com o ritmo do jazz de Nova Orleans, o blues de um Natkingcole, de uma Arethafranklin, uma Diannaross, um Stevewonder. A batida dolente, anestesiante nas percussões selváticas das savanas da alma no zoom máximo da nostalgia, mistura de senzalas, porões repletos, troncos, chibatas, correntes, cangas, cadeias e castigos. O blues é o Banzo. O lundu, o calundu, o cafuné, as vozes cristalinas nos coros cantados, entoados em orações e preces. Do mesmo modo que se criou o blues, fundou-se e difundiu-se a instituição do blue-jeans, o azul do joãozinho, o zuarte do macacão do cowboy virando uniforme e ditadura no mundinho globalizado...

Fui uma das pioneiras, na cidade em que morava, há um quarto de século atrás, da onda naturalista. Como uma crédula buscadora li, estudei, fiz cursos em São Paulo, experimentei, compartilhei a hóstia da fé mais altaneira, da vontade mais dócil. Aqui não vou fazer o papel do renegado, o caçador de cabeças que de repente desdenha e despreza o escalpo. Todas as minhas experiências foram válidas, mas quero é falar do Sugar Blues.

Meu sobrinho brasiliense, à época um adolescente, hoje um Doutor Procurador da República, (oi, Hélio Jr.!) ficou muito impressionado com o livro e deve ter passado alguns anos sem provar açúcar. Eu, na minha loja pioneira de produtos alternativos, tinha um discurso pronto na ponta da língua. Lembro-me de que a gente enaltecia o mel, jurando que é um produto de origem vegetal.. O pólen, sim. Mas quando a abelha o recolhe, engole, processa e o incrementa com suas próprias enzimas, ele passa a ser um produto de origem animal. Depois fiquei sabendo que os bebês até um ano de idade não podem ingerir mel, pois não dispõem de anticorpos para combater alguma eventual toxina botulínica contida no alimento.

O açúcar é de origem vegetal. Agora todo mundo o abomina por ser calórico. E os cientistas e pesquisadores começaram a alertar, recentemente, que as quantidades de sódio dos edulcorantes artificiais são engordativas. E muito prejudiciais, pois são cumulativas Todo mundo cai na onda de uma fatia de torta de maçã ou chocolate com uma xícara de cafezinho adoçado com zerocal. É o retrato da nossa sociedade moderna, informada, engambelada e engambeladora e de todos os seus fingidores membros.

Como estou muito preocupada em não acumular sódio nos rins, pois o nosso organismo não tem saída para esses excessos artificiais, voltei a ingerir açúcar, moderadamente. Até com cautela, mas estou de olho nos rótulos dos produtos. Acumular, só conhecimentos através de estudos e pesquisas. O que não tem serventia joga-se fora...Ou melhor, não se adquire.

Vila Velha, 21 de maio de 2008.

Berenice Heringer
Enviado por Berenice Heringer em 24/05/2008
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