Assimetria da ausência
O ser humano vive do passado em seus momentos de reflexão, como se tivesse o poder de mudá-lo ou trazê-lo para o presente. O presente torna-se passado na primeira fração de segundo, como nossas próprias lembranças e nossos planos para o futuro. Ahhh o tempo que anda nesse maldito calendário e nesse maldito relógio!
Mas seria bom mesmo se pudéssemos re-editar nosso passado como se faz no cinema? Escolher as partes que seriam cortadas ou mantidas? Decidir sobre a trilha-sonora de cada cena e os diálogos mais significativos? Mudar o nosso presente ao bel prazer dos nossos humores situacionais?
Não, creio eu. Somos uma essência desse passado que não pode ser editada ou reconstruída. É como a essência da flor. Se tirarmos dela uma única pétala sêca, perderá a sua "quase-beleza" para a assimetria da ausência. A sua essência está na planta e o sucesso da nova florada estará na atenção que foi dada para a praga que afetou sua pequena pétala.
Não sabemos nada sobre o sofrimento. Sentimos os reflexos das lições, nos colocamos como vítimas dos outros ou de nós mesmos, mas não avaliamos as mudanças que moldaram positivamente o nosso eu.
Encarnados, nossas limitações físicas e emocionais jamais nos permitirão louvar o sofrimento, mas poderemos ao menos tentar compreendê-lo melhor e dar mais valor à essência do que somos frente às dores que passamos. Sentir alívio e aprender a lição com o sofrimento que se foi, sem reabrir a cicatriz. Afinal, dentro dela só encontrará você e nada mais.
Uma pequena reflexão sobre meu poema "Abrace-se"
RSanchez 06/04/2005 13:01:43